“Num
momento em que o jogo político se dá cada vez mais com a marca de um
pragmatismo vazio, órfão de referências ideológicas e valores sólidos e
consistentes, talvez uma revisita aos clássicos seja uma boa conduta”, diz
deputado
Por: Marcus Pestana
Daqui a
nove meses escolheremos o presidente da República e a estratégia nacional que
guiará o país nos próximos quatro anos. Só têm direito a reivindicar o futuro
aqueles que compreendem criticamente e valorizam a herança da história. Nada é
mais raso e equivocado do que as visões do tipo “nunca antes na história desse
país”. Pecam por falta de humildade e rigor analítico. A história não começa,
nem termina com nenhum ator isoladamente, por mais importante que tenha sido.
Não se quer com isso negar o papel, positivo ou negativo, do indivíduo na
história. É evidente que sujeitos singulares como Mandela, Napoleão, Lênin,
Hitler, Gandhi, Lincoln, Churchill, Vargas, JK, entre tantos outros, para o bem
ou para o mal, catalisaram e sintetizaram as energias e as tendências de
determinada época através de sua liderança pessoal. Mas o avanço civilizatório
é um processo, o desenvolvimento da sociedade é obra coletiva, geração após
geração.
Num
momento em que o jogo político se dá cada vez mais com a marca de um
pragmatismo vazio, órfão de referências ideológicas e valores sólidos e
consistentes, onde o conteúdo e as ideias se perdem num oceano de marketagem e
oportunismo, talvez uma revisita aos clássicos seja uma boa conduta.
O recesso
parlamentar permite colocar a leitura em dia. E dos livros que me fizeram
companhia neste janeiro, sugiro a todos que desejarem partir para as eleições
com uma visão mais clara sobre a formação da sociedade e da economia
brasileiras a leitura da coletânea de ensaios, resenhas e conferências,
escritos de 1978 até hoje por Fernando Henrique Cardoso, em “Pensadores que
inventaram o Brasil”. É uma leitura oportuna também para os jovens que começam
a se interessar pela vida nacional, suas raízes e seu futuro.
Ali, o
líder político e ex-presidente da República dá lugar ao maior intérprete do
Brasil contemporâneo e a um dos mais importantes intelectuais de nossas
ciências sociais.
Ele passa
seu olhar crítico e recupera de forma refinada e criativa as principais obras
de Nabuco, Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio
Prado Jr., Antônio Cândido, Florestan, Celso Furtado e Faoro. O autor nos leva
a uma viagem, plural e ampla, pelo que há de melhor na literatura brasileira
para que compreendamos como o capitalismo contemporâneo e a sociedade moderna
surgiram no Brasil, de forma absolutamente original, das entranhas do
escravismo colonial, num território continental, sob a língua portuguesa e a
partir de uma combinação única, sincrética, contraditória, às vezes,
misteriosa, de traços culturais e históricos de europeus, negros e índios.
Vale a
leitura. Como diz FHC: “A lupa que permite ver quem somos e como somos precisa
do complemento de telescópios que nos situem no universo mais amplo, sem cujo
desvendar a visão de nossa identidade fica pouco nítida”. E complemento eu: e o
futuro mais nebuloso.
Por: Marcus Pestana, Congresso em Foco
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