Educação no Brasil está prostituída

                 Por: Robson Franco
Acordei na última segunda-feira com um relato “atômico” concedido por minha irmã, e que muito me indignou! Dizia ela: “Robson, passou aqui no jornal que um cursinho de pré-vestibular cobra um valor a mais para os alunos que sentam nas primeiras fileiras da sala de aula.”. Eu, muito incrédulo no que ouvia, retruquei: “O quê! Como assim?”. “É, parece que os pais aceitam pagar um valor a mais para que seus filhos se assentem nas duas primeiras fileiras da sala!”- completou minha irmã.

Antes de dar continuidade a esse alarmante quadro descabível e expor a minha revolta ante esse acontecimento no tal cursinho que minha irmã não soube me informar, mas que parece ser em Minas Gerais, necessito discorrer sobre o substantivo prostituição.

Muitas pessoas interpretam essa palavra como sinônimo de vender-se sexualmente, trocar sexo por algum bem ou interesse pessoal, etc… No entanto, prostituir-se tem uma semântica muito mais complexa do que popularmente se atribui a ela. Quando deixamos de agir dentro de uma convenção social atribuída como certo ou digno. Quando nos vendemos imoralmente fazendo o que socialmente é indigno e por interesse próprio. Quando pensamos no pessoal em detrimento do coletivo, nos prostituímos! Não preciso ir muito longe para discorrer sobre este assunto, de uma forma sintética e muito recorrente, darei um exemplo clássico de PROSTITUIÇÃO moral, cívico e social.

Um político a fim de ganhar seu voto e da sua família, lhe promete dar o material para que você coloque laje em sua casa que; há muito vem se deteriorando pelo desgaste das telhas que estão- há muito tempo- “avisando” que não há mais como proteger-te do relento. Então, automaticamente você promete seu voto e de quantos estiverem ao seu alcance para que lhe seja – por tal candidato-, te concedido o benefício. No entanto, em toda a comunidade em que tu vives, há pessoas que precisam de reparos muitas vezes mais emergenciais que os seus. Temos nesse caso uma prostituição social comum e cancerígena, que é o interesse pessoal em detrimento do coletivo!


Mas qual o problema de se aceitar um favor de muita necessidade em troca de um voto que poder-se-ia dar a qualquer um? É que quando recebemos qualquer tipo de benefício, a tendência é não reparar ao nosso redor, ou seja, não perceber que uma sociedade inteira precisa de receber dos governantes subsídios capazes de fazer com que se possa ter, no mínimo, laje na casa dos que passam por dificuldades financeira. Mas é de responsabilidade do governo forrar seu teto de concreto? Sim, é! Todo cidadão trabalhador, contribuinte de impostos, deve ter um salário digno que o dê possibilidade de ter teto! Mas o governo tem culpa da falta de estudo e que na maioria das vezes é o fator primordial de não se ter o mínimo de qualidade de vida? Claro que sim! Pense que a estrutura das escolas públicas é falida. Pense que nossas crianças, das classes D e E, precisam trabalhar muito cedo pra sobreviverem e, com isso, contribuem para o perverso quadro de “exclusão social”.
Creio que tenha acrescido ao substantivo em voga argumentos suficientes para convencê-lo de que o tal vilão pode se tornar mais perverso do que quando atua vendendo menores carentes no nordeste do país. E que essas coitadas se prostituem sexualmente para conseguir dinheiro e não deixar a família morrer de fome, muitas vezes forçadas ou incentivadas pelos próprios pais. Mas não se engane: não existe menor ou maior escala desse perverso mundo prostituído. Há sim, uma engrenagem que se movimenta e comanda o mundo através da venda da sua dignidade, do seu moral e da sua conduta.
Entremos então nessa infame instituição de ensino onde a Educação é prostituída. Na porta da sala da turma de pré-vestibular já damos de cara com um prostituto. Ele, embarreirando o acesso à sala de aula, argui:
- Aluno ouro?
- Como?
- Mostre o seu cartão.
Ao perceber não se tratar de um aluno preferencial, o inspetor aponta para uma cadeira cujo ângulo de visão do quadro é atrapalhado por uma pilastra.
Em seguida um aluno com fones de ouvido, mascando chiclete e com um tablet a mão, ao aproximar-se do prostituto, também é arguido:
- Aluno ouro?
- Tá de sacanagem! Eu sou diamante, velho!
- Tu num tá vendo que é brincadeira minha?! (dá um sorriso amarelo)
O aluno senta na primeira fileira, puxa uma cadeira de trás e põe os pés sobre ela.
Um aluno da última fileira diz não entender o que está escrito na última linha escrita no quadro. O professor finge não ouvir e continua escrevendo. O aluno embargado de continuar copiando pergunta mais uma vez. O professor responde: “tá cego ou ficou a noite toda vendo filme de sacanagem?” Os alunos da frente soltam uma gargalhada uníssona e debochadora.
Um aluno “ouro” chama o professor. Ele não ouve. O aluno então grita, o professor se assusta, vira-se de frente para o “ouro” e diz suavemente: “alguma dúvida querido?”
Chega! Não vou me prostituir escrevendo diálogos perversos e que não são ficcionais como escrevo de costume. Desculpa-me, mas às vezes não consigo escrever diálogos verossímeis, principalmente tratando-se de algo que trato como um filho, a saber: a Educação!
Deixo aqui nessas linhas a indignação de um cidadão Educador que não compactua, de maneira alguma, com o tratamento prostituído dado nessa e em milhares de escolas – mesmo que seja de uma forma desdobrada, mas igualmente prostituída.
Caros, não se vendam! Não negocie seus valores intelectuais, morais e cívicos. Alcancem voos bem altos, mas tenham a certeza de que quando aterrizarem não terão suas asas quebradas pelos que tem sede de justiça.
Curso Predileção, lutando pela justiça social!

Por: Robson Franco nasceu e vive no Rio de Janeiro. É roteirista, ator, escritor e professor, ministrando aulas de cultura e cidadania. Diretor do projeto de inclusão social “Curso Predileção”.

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