“Nós temos adorado outros deuses e
chamado a isto diversidade cultural e espiritualidade dos novos tempos. Nós
temos cometido adultério e chamado a isto um caso. Nós temos aprovado a
perversão e chamado a isto estilo de vida alternativo”
No dia 23 de janeiro de 1996
realizou-se a cerimônia de abertura dos trabalhos da Casa Legislativa do Estado
do Kansas (EUA), na cidade de Topeka. Por lá estava o capelão substituto Joe
Wright, o qual foi convidado a dizer algumas palavras em reverência ao momento. Por: Pedro Feu Valls Rosa
Eis que, para espanto geral, ele
sacou da memória uma oração de autoria do pai de Bob Russell, da Igreja Cristã
de Louisville, Kentucky (EUA), iniciando uma das maiores polêmicas que aquele
lugar já tinha visto! Transcrevo, a seguir, suas palavras:
“Ó Senhor, sabemos o que diz Sua
palavra, ‘maldição aos que chamam o mal de bem’, mas é exatamente o que temos
feito. Nós temos perdido o equilíbrio espiritual e invertido nossos valores.
Nós confessamos que temos ridicularizado a verdade absoluta da Sua palavra e
chamado a isto pluralismo moral. Nós temos adorado outros deuses e chamado a
isto diversidade cultural e espiritualidade dos novos tempos. Nós temos
cometido adultério e chamado a isto um caso. Nós temos aprovado a perversão e
chamado a isto estilo de vida alternativo”.
E prosseguiu ele: “Nós temos
explorado os pobres e chamado a isto destino. Nós temos negligenciado os
necessitados, e chamado a isto gestão econômica. Nós temos recompensado a
inércia e chamado a isto bem-estar social. Nós temos assassinado nossos filhos
que ainda não nasceram, e chamado a isto escolha. Nós temos sido negligentes ao
disciplinar nossos filhos, e chamado a isto desenvolvimento de autoestima”.
Diante de uma já agitada platéia,
a oração continuou: “Nós temos deixado de executar a justiça rapidamente,
conforme Seu comando, e chamamos a isto de devido processo legal. Nós temos
encarcerado ofensores não-violentos ao invés de dar-lhes a oportunidade de uma
reparação, e chamado a isto proteger a sociedade. Nós temos deixado
estupradores e assassinos livres para escárnio dos inocentes e chamado a isto
justiça”.
A esta altura, segundo consta,
algumas pessoas já haviam se retirado da sala em protesto. Mas ele prosseguiu:
“Nós temos falhado em amar nosso vizinho por conta da cor de sua pele, e
chamado a isto manutenção da pureza racial. Nós temos abusado do poder, e
chamado a isto política. Nós temos cobiçado as coisas de nossos vizinhos, e
chamado a isto ambição. Nós temos poluído o ar com profanações e pornografia, e
chamado a isto liberdade de expressão. Nós temos feito do Dia do Senhor o maior
dia de compras da semana, e chamado a isto livre empresa. Nós temos
ridicularizado os honrados valores de nossos ancestrais, e chamado a isto
iluminação”.
Como podemos facilmente imaginar,
iniciou-se ali uma polêmica daquelas acirradas. Alguns acusaram o capelão Joe
Wright de intolerante, enquanto outros enalteceram sua coragem. Poucos meses
depois, quando o assunto já estava meio que esquecido, deram a palavra a um
parlamentar de nome Mark Paschall, em uma cerimônia acontecida na Casa
Legislativa do Colorado. E eis que o dito cujo repetiu, letra por letra, aquela
que acabou sendo conhecida como “a oração de Joe Wright”. Também lá, segundo
apurei, muitas pessoas se retiraram do recinto em protesto, enquanto outras
aplaudiam vivamente.
Uns bons 14 anos se passaram desde aquela manhã na
cidade de Topeka, mas a polêmica continua, aqui e ali. E tenho que continuará
por muito tempo. Afinal, como dizia Mark Twain, “nada precisa de tantas
reformas quanto os hábitos dos outros”.
Por: Pedro Feu Valls Rosa
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