HomicĂdios no Brasil superam nĂșmeros de paĂses em guerra como: Iraque e AfeganistĂŁo Por: JosĂ© Renato Salatiel
O crescimento no nĂșmero de homicĂdios acontece em meio a uma sĂ©rie de
atentados contra policiais militares, supostamente cometidos pela facção
criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Parte das mortes teria sido uma retaliação aos assassinatos de 88
policiais militares no Estado, ocorridos desde janeiro. As execuçÔes lembram
métodos usados pelos esquadrÔes da morte nos anos 1960, durante a ditadura militar, em São Paulo e Rio de
Janeiro. Nessa época, era registrado um assassinato por dia na capital
paulista.
JĂĄ no final dos anos 1990, perĂodo mais crĂtico, a taxa chegou a um
homicĂdio por hora. O governo paulista reagiu e conseguiu reduzir, entre 2009 e
2011, o Ăndice de 35,27 mortes por 100 mil habitantes para 9,9. Este ano, em
uma nova crise na segurança pĂșblica, jĂĄ foram registrados 63,5 homicĂdio por
100 mil habitantes.
A violĂȘncia urbana tornou-se um problema social grave em todo o paĂs a
partir dos anos 1990. Nessa época, a falta de planejamento urbano e o tråfico
de drogas fizeram eclodir “guerras” nas periferias das cidades. Houve tambĂ©m o
que os especialistas em segurança pĂșblica chamam de “interiorização da
violĂȘncia”, que Ă© quando o crime “migra” das grandes para as pequenas cidades
no interior dos Estados.
Guerra
Segundo o Mapa da ViolĂȘncia 2012, elaborado pelo Instituto Sangari, o
nĂșmero de assassinatos no paĂs passou de 13.910 em 1980 para 49.932 em 2010,
correspondendo a um aumento de 259% ou o equivalente ao crescimento de 4,4% ao
ano. A taxa de homicĂdios que era de 11,7 para cada 100 mil habitantes atingiu,
no mesmo perĂodo, 26,2.
O nĂșmero Ă© superior a paĂses em conflitos, como Iraque e AfeganistĂŁo, e comparado a naçÔes africanas e
caribenhas com governos e instituiçÔes precårias e inståveis. Na América do
Sul, somente Venezuela (45,1) e a ColĂŽmbia (33,4) possuem taxas maiores. A
Venezuela Ă© assolada por uma crise financeira e pela escassez de alimentos,
enquanto a ColÎmbia vive conflitos com narcotraficantes das Farc (Forças
Armadas RevolucionĂĄrias da ColĂŽmbia).
A ONU considera aceitĂĄvel o Ăndice de 10 homicĂdios para cada grupo de
100 mil habitantes. Nessa faixa estĂŁo paĂses desenvolvidos, como Estados
Unidos, Canadå, europeus e asiåticos. O Brasil, porém, com mais do que o dobro
desse patamar, se alinha Ă s naçÔes mais pobres da AmĂ©rica Latina e Ăfrica.
Mas como a sexta maior economia do mundo, que nĂŁo possui conflitos
Ă©tnico-religiosos ou polĂticos, enfrenta um problema tĂŁo grave?
Miséria
As causas do aumento da violĂȘncia no Brasil sĂŁo complexas e envolvem
questĂ”es socioeconĂŽmicas, demogrĂĄficas, culturais e polĂticas. O assunto tem
sido discutido, nos Ășltimos anos, por pesquisadores de diferentes ĂĄreas,
incluindo a médica, pois os assassinatos estão entre as principais causas de
mortes de jovens no paĂs.
A pobreza e a desigualdade social sĂŁo comumente apontadas como fatores
que estimulam a violĂȘncia e a criminalidade. De fato, jovens que vivem em
comunidades carentes são aliciados por traficantes e veem no crime uma opção de
vida.
PorĂ©m, a redução dos Ăndices de pobreza do paĂs nĂŁo foi acompanhada de
semelhante queda nos Ăndices de criminalidade. Na Ășltima dĂ©cada, 40 milhĂ”es de
brasileiros saĂram da pobreza em razĂŁo da estabilidade econĂŽmica e programas
sociais. No mesmo perĂodo, de 2000 a 2009, a taxa de homicĂdios permaneceu
eståvel: 26 mortes por 100 mil habitantes, com reduçÔes significativas apenas
em SĂŁo Paulo e Rio de Janeiro.
AlĂ©m de falhar nos fatores preventivos – fornecendo educação, moradia e
emprego para famĂlias carentes – o Estado tambĂ©m falha na repressĂŁo ao crime
organizado. As polĂcias civil e militar no Brasil sĂŁo mal remuneradas e
conhecidas pela corrupção e truculĂȘncia. A violĂȘncia policial no paĂs Ă©
constantemente alvo de denĂșncias por entidades como a Anistia Internacional, em
casos emblemĂĄticos como os massacres do Carandiru (1992) e da CandelĂĄria e do
VigĂĄrio Geral (1993).
Por outro lado, o sistema penitenciĂĄrio, que deveria contribuir para a
recuperação de criminosos, tornou-se foco de mais violĂȘncia e criminalidade, em
cadeias e presĂdios superlotados. Dados do Governo Federal apontam que, entre
1995 e 2005, a população carceråria cresceu 143,91%, passando de 148 mil para
361 mil presos. De 2005 a 2009, o crescimento foi de 31,05%, chegando a 474 mil
detentos. Hoje, hå um déficit de 195 mil vagas no sistema prisional brasileiro.
Hå, por fim, uma sensação de impunidade, provocada pela lentidão da
Justiça brasileira. Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), de 90 milhÔes
de processos que tramitaram nos tribunais em 2011, 71% (63 milhÔes) encerraram
o ano sem solução, ou seja, de cada 100 processos, 71 não receberam sentenças
graças ao acĂșmulo de trabalho e Ă burocracia.
Desarmamento
Apesar disso, algumas açÔes contribuĂram para minimizar a morte de
cidadĂŁos brasileiros. Entre elas, o Estatuto do Desarmamento, que entrou em
vigor em 2003, ano em que foram registradas quedas de homicĂdios. O Estatuto
tornou crime inafiançåvel o porte ilegal de armas e dificultou o comércio e a
compra.
No Rio de Janeiro, a polĂtica de ocupação de morros e favelas, antes
dominados pelo trĂĄfico de drogas, e a instalação das UPPs (Unidades de PolĂcia
Pacificadora) também foram consideradas um avanço, bem como o aumento em 70%
dos investimentos na ĂĄrea de segurança pĂșblica em SĂŁo Paulo.
Por: José Renato
Salatiel, Educação e Pedagogia
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