ViolĂȘncia urbana: aumenta de forma assustadora no Brasil

HomicĂ­dios no Brasil superam nĂșmeros de paĂ­ses em guerra como: Iraque e AfeganistĂŁo              Por: JosĂ© Renato Salatiel           
No mĂȘs de setembro, o crime de homicĂ­dio registrou um crescimento de 96% na maior cidade do paĂ­s SĂŁo Paulo-capital, em comparação com o mesmo perĂ­odo em 2011. É o maior Ă­ndice em um Ășnico mĂȘs jĂĄ registrado pelo Estado.
O crescimento no nĂșmero de homicĂ­dios acontece em meio a uma sĂ©rie de atentados contra policiais militares, supostamente cometidos pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Parte das mortes teria sido uma retaliação aos assassinatos de 88 policiais militares no Estado, ocorridos desde janeiro. As execuçÔes lembram mĂ©todos usados pelos esquadrĂ”es da morte nos anos 1960, durante a ditadura militar, em SĂŁo Paulo e Rio de Janeiro. Nessa Ă©poca, era registrado um assassinato por dia na capital paulista.

JĂĄ no final dos anos 1990, perĂ­odo mais crĂ­tico, a taxa chegou a um homicĂ­dio por hora. O governo paulista reagiu e conseguiu reduzir, entre 2009 e 2011, o Ă­ndice de 35,27 mortes por 100 mil habitantes para 9,9. Este ano, em uma nova crise na segurança pĂșblica, jĂĄ foram registrados 63,5 homicĂ­dio por 100 mil habitantes.
A violĂȘncia urbana tornou-se um problema social grave em todo o paĂ­s a partir dos anos 1990. Nessa Ă©poca, a falta de planejamento urbano e o trĂĄfico de drogas fizeram eclodir “guerras” nas periferias das cidades. Houve tambĂ©m o que os especialistas em segurança pĂșblica chamam de “interiorização da violĂȘncia”, que Ă© quando o crime “migra” das grandes para as pequenas cidades no interior dos Estados.
Guerra
Segundo o Mapa da ViolĂȘncia 2012, elaborado pelo Instituto Sangari, o nĂșmero de assassinatos no paĂ­s passou de 13.910 em 1980 para 49.932 em 2010, correspondendo a um aumento de 259% ou o equivalente ao crescimento de 4,4% ao ano. A taxa de homicĂ­dios que era de 11,7 para cada 100 mil habitantes atingiu, no mesmo perĂ­odo, 26,2.
O nĂșmero Ă© superior a paĂ­ses em conflitos, como Iraque e AfeganistĂŁo, e comparado a naçÔes africanas e caribenhas com governos e instituiçÔes precĂĄrias e instĂĄveis. Na AmĂ©rica do Sul, somente Venezuela (45,1) e a ColĂŽmbia (33,4) possuem taxas maiores. A Venezuela Ă© assolada por uma crise financeira e pela escassez de alimentos, enquanto a ColĂŽmbia vive conflitos com narcotraficantes das Farc (Forças Armadas RevolucionĂĄrias da ColĂŽmbia).
A ONU considera aceitåvel o índice de 10 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes. Nessa faixa estão países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadå, europeus e asiåticos. O Brasil, porém, com mais do que o dobro desse patamar, se alinha às naçÔes mais pobres da América Latina e África.
Mas como a sexta maior economia do mundo, que não possui conflitos étnico-religiosos ou políticos, enfrenta um problema tão grave?
Miséria
As causas do aumento da violĂȘncia no Brasil sĂŁo complexas e envolvem questĂ”es socioeconĂŽmicas, demogrĂĄficas, culturais e polĂ­ticas. O assunto tem sido discutido, nos Ășltimos anos, por pesquisadores de diferentes ĂĄreas, incluindo a mĂ©dica, pois os assassinatos estĂŁo entre as principais causas de mortes de jovens no paĂ­s.
A pobreza e a desigualdade social sĂŁo comumente apontadas como fatores que estimulam a violĂȘncia e a criminalidade. De fato, jovens que vivem em comunidades carentes sĂŁo aliciados por traficantes e veem no crime uma opção de vida.
PorĂ©m, a redução dos Ă­ndices de pobreza do paĂ­s nĂŁo foi acompanhada de semelhante queda nos Ă­ndices de criminalidade. Na Ășltima dĂ©cada, 40 milhĂ”es de brasileiros saĂ­ram da pobreza em razĂŁo da estabilidade econĂŽmica e programas sociais. No mesmo perĂ­odo, de 2000 a 2009, a taxa de homicĂ­dios permaneceu estĂĄvel: 26 mortes por 100 mil habitantes, com reduçÔes significativas apenas em SĂŁo Paulo e Rio de Janeiro.
AlĂ©m de falhar nos fatores preventivos – fornecendo educação, moradia e emprego para famĂ­lias carentes – o Estado tambĂ©m falha na repressĂŁo ao crime organizado. As polĂ­cias civil e militar no Brasil sĂŁo mal remuneradas e conhecidas pela corrupção e truculĂȘncia. A violĂȘncia policial no paĂ­s Ă© constantemente alvo de denĂșncias por entidades como a Anistia Internacional, em casos emblemĂĄticos como os massacres do Carandiru (1992) e da CandelĂĄria e do VigĂĄrio Geral (1993).
Por outro lado, o sistema penitenciĂĄrio, que deveria contribuir para a recuperação de criminosos, tornou-se foco de mais violĂȘncia e criminalidade, em cadeias e presĂ­dios superlotados. Dados do Governo Federal apontam que, entre 1995 e 2005, a população carcerĂĄria cresceu 143,91%, passando de 148 mil para 361 mil presos. De 2005 a 2009, o crescimento foi de 31,05%, chegando a 474 mil detentos. Hoje, hĂĄ um dĂ©ficit de 195 mil vagas no sistema prisional brasileiro.
HĂĄ, por fim, uma sensação de impunidade, provocada pela lentidĂŁo da Justiça brasileira. Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), de 90 milhĂ”es de processos que tramitaram nos tribunais em 2011, 71% (63 milhĂ”es) encerraram o ano sem solução, ou seja, de cada 100 processos, 71 nĂŁo receberam sentenças graças ao acĂșmulo de trabalho e Ă  burocracia.
Desarmamento
Apesar disso, algumas açÔes contribuíram para minimizar a morte de cidadãos brasileiros. Entre elas, o Estatuto do Desarmamento, que entrou em vigor em 2003, ano em que foram registradas quedas de homicídios. O Estatuto tornou crime inafiançåvel o porte ilegal de armas e dificultou o comércio e a compra.
No Rio de Janeiro, a polĂ­tica de ocupação de morros e favelas, antes dominados pelo trĂĄfico de drogas, e a instalação das UPPs (Unidades de PolĂ­cia Pacificadora) tambĂ©m foram consideradas um avanço, bem como o aumento em 70% dos investimentos na ĂĄrea de segurança pĂșblica em SĂŁo Paulo.
Por: José Renato Salatiel, Educação e Pedagogia


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