Mais de
849 milhões de hectares de terras naturais serão degradados até 2050 se
práticas mais sustentáveis não forem adotadas na agricultura
Por: Clarissa Neher
Uma área quase do
tamanho do Brasil de terrenos naturais corre o risco de ser degradada até 2050,
caso práticas sustentáveis de uso da terra não sejam adotadas e a agricultura
global continue se expandido na proporção dos últimos anos. O alerta é do Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que destaca entre as regiões
mais ameaçadas as florestas da América Latina, da Ásia e da África Subsaariana.
"O mundo
nunca havia experimentado uma redução tão acentuada dos serviços e funções dos
ecossistemas terrestres como nos últimos 50 anos. As florestas e zonas úmidas
estão sendo convertidas em terrenos agrícolas para alimentar a crescente
população", afirma Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma.
A expansão das
fronteiras agrícolas é causada, por um lado, pelo aumento na demanda por
alimentos e bicombustíveis, devido ao crescimento populacional, e, por outro
lado, pela degradação do solo, ocasionado pela má gestão do campo. A perda de
biodiversidade e a destruição ambiental generalizada já afetam 23% do solo
mundial.
Sem uma mudança
nas práticas agrícolas, mais de 849 milhões de hectares de terrenos naturais
serão degradados até 2050, aponta o relatório do Pnuma divulgado na última
sexta-feira (24/01).
"Ao
reconhecer que a terra é um recurso finito, precisamos aumentar a nossa forma
de produzir, oferecer e consumir os produtos obtidos a partir dela. Nós devemos
ser capazes de definir e respeitar os limites dos quais o mundo pode funcionar
com segurança para salvar milhões de hectares até 2050", diz Steiner.
Tendência
é a expansão
Atualmente a
agricultura consome mais de 30% da superfície continental do planeta, e as
terras cultivadas abrangem em torno de 10% do terreno mundial. Entre 1961 e
2007, a região de cultivo se expandiu em 11%. O relatório aponta a continuidade
em ritmo acelerado dessa tendência de expansão.
Nos últimos 50
anos, a ampliação da fronteira agrícola ocorreu à custa de florestas tropicais.
Enquanto houve um declínio da área plantada na União Europeia, especialmente em
Itália e Espanha, Leste da Europa e América do Norte, ocorreu um aumento das
terras cultivadas na América do Sul, principalmente em Brasil, Argentina e
Paraguai, na África e na Ásia.
Desde a década de
1990, essas fronteiras estão sendo ampliadas para compensar as terras que estão
se tornado improdutivas devido a práticas agrícolas não sustentáveis. A agência
alerta que se o padrão de expansão desta década continuar, vai atingir
principalmente as florestas da América Latina, da Ásia e da África Subsaariana.
Alternativas
sustentáveis
O relatório aponta
que a área cultivada global para suprir a demanda poderia aumentar com
segurança até no máximo 1,640 milhão de hectares. Mas adverte que se as
condições atuais permanecerem, em 2050 a demanda vai ultrapassar esse espaço.
A agência sugere
como medidas para aumentar a produtividade nas atuais regiões agrícolas
melhorias na gestão do solo, o incentivo a práticas ecológicas e sociais de
produção, o monitoramento do uso da terra, investimentos na recuperação de
terras degradadas e a integração conhecimentos locais e científicos – além da
redução nos subsídios de culturas destinadas à fabricação de combustíveis.
Além dos fatores
agrícolas, a agência aponta o consumo excessivo como um dos aspectos que levou
a essa expansão. O relatório reforça que políticas para reduzir esses níveis e
fomentar o consumo sustentável são essenciais para reverter a situação.
Se o mundo
incentivar a agricultura sustentável, além de reduzir o consumo e a expansão
agrícola, cerca de 319 milhões de hectares podem ser salvos até 2050.
Por: Clarissa Neher, do Carta Capital
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