Primeiro deputado indÃgena, Juruna circulava, na
década de 1970, com um gravador no pescoço porque “homem branco mentia muito”.
Agora, pesquisadores alemães constatam que homens e animais agem de forma
diferente quando seus atos estão sendo registrados, diz desembargador
Por: Pedro Valls Feu
Brasil, década de 1970. Um Ãndio xavante de nome
Mário Juruna começa a circular por BrasÃlia defendendo a causa indÃgena. Quem
não se lembra de sua maior arma, um simples gravador? E lá ia Juruna para as
audiências e reuniões com aquele aparelho pendurado no pescoço, dizendo que
“homem branco mentia muito”. Juruna já faleceu, mas até hoje seu folclórico
gravador é reverenciado como sÃmbolo da indignação diante da falta de
sinceridade.
Curiosamente, e talvez nem o próprio Juruna
soubesse disso, o poder das gravações não se restringe a dificultar mentiras.
Foi o que demonstraram, recentemente, pesquisadores da Universidade de Erfurt,
na Alemanha. Constatou-se que homens e animais agem de forma diferente quando
seus atos estão sendo observados ou registrados – ambos tentam esconder seus
defeitos e agir de forma mais correta, tentando passar a melhor imagem
possÃvel.
Lembrei-me desta pesquisa e do pitoresco gravador
de Juruna quando li, há alguns dias, uma importante notÃcia publicada na
agência Xinhua, da China: “O Ministério da Segurança Pública
anunciou que a China passará a gravar os interrogatórios de criminosos. He
Ting, diretor do Departamento de Investigações, declarou que estas medidas
visam a reduzir o número de confissões extraÃdas sob tortura, e também evitar
que réus confessos tentem voltar atrás acusando falsamente os policiais que os
interrogaram”.
No Japão, o jornal Yomiuri destacou o
caso de Toshitaka Yamamoto, processado por homicÃdio, e cuja confissão, dado
ter sido filmada, foi reconhecida como legal pela Suprema Corte e serviu para
inocentar policiais que estavam sendo injustamente acusados de abuso.
Do outro lado do Atlântico não tem sido diferente,
conforme registrou em recente reportagem o jornal Le Monde: “Os
policiais reclamam das filmagens, mas as amam ao mesmo tempo. Elas podem servir
para identificar os autores de crimes, mas também ser utilizadas contra eles em
caso de abuso. De qualquer maneira, seu uso é inevitável”. Um detalhe: na
França as filmagens não se restringem aos interrogatórios, mas à própria ação
policial. Assim, o que acontece no local dos fatos é filmado, de forma a
claramente identificar os crimes e seus autores, e bem assim eventuais excessos
dos agentes da lei.
E na Inglaterra? Com a palavra o jornal The
Guardian: “PolÃcia, câmera, ação! Finalmente tornou-se realidade a entrega
aos policiais da Inglaterra de capacetes equipados com filmadoras. Estas
câmeras serão utilizadas para filmar cenas de ação, menores embriagados,
confrontos com bandidos, revistas pessoais e incidentes de violência doméstica.
O ministro da PolÃcia, Tony McNulty, declarou que as câmeras melhorarão a
qualidade da prova produzida pelos policiais e aumentarão a proporção de
criminosos punidos”. Aliás, a gravação do interrogatório de criminosos é
obrigatória na Inglaterra desde a década de 1980.
Já nos Estados Unidos, desde 2006, as viaturas
policiais de Los Angeles são equipadas com filmadoras. Em Nova York, segundo o
jornal USA Today, a polÃcia já se prepara para equipar as próprias
armas dos policiais com filmadoras digitais. Em Seattle, policiais elogiam suas
câmeras pessoais, declarando que estas “são um meio de proteger o bom
profissional. Elas mostram exatamente o que aconteceu”.
Pois é! Quem diria, nos já distantes idos de 1970,
que Juruna teria tantos seguidores pelo mundo afora?
Congresso em Foco
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