Em meio à pandemia da covid-19, que levou a uma situação de isolamento social e mudanças no ritmo de vida, as buscas pelos termos meditação e mindfulness (ou atenção plena) atingiram o recorde dos últimos 16 anos, segundo levantamento do Google. Em relação ao ano passado, a pergunta “como fazer meditação para ansiedade” cresceu 4.000% e o aumento de “benefícios da meditação” chegou aos 200%.
Especialistas nas práticas ouvidos pelo Estadão afirmam que as pessoas estão procurando formas para lidar com as aflições que têm surgido no período e encontram, nos métodos, técnicas para tentar manter a calma, diminuir o estresse e focar nas atividades que precisam ser realizadas.
“Há uma sensação de necessidade de buscar alguma ferramenta para lidar com esse momento que é estressante para todos, porque houve mudança de padrão de vida. Aqueles que já conheciam e não estavam fazendo com regularidade, voltaram. E muitas pessoas foram buscar informação. Acho que a curva é ascendente”, diz o médico especialista em mindfulness Marcelo Demarzo, coordenador do Centro Mente Aberta, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com o Google, as buscas por “como ser uma pessoa mais calma” tiveram um aumento de 3.250% em relação ao ano passado. “Espairecer a mente” cresceu 400%. “Muitos temas dispararam nas buscas durante a pandemia, e o bem-estar físico e mental foi umas das verticais em que esse salto ficou bem claro. As medidas de distanciamento social criaram uma nova rotina na vida das pessoas e elas precisaram se acostumar a novos hábitos, horários e precisaram encontrar novas maneiras de executar determinadas atividades”, avalia Marco Túlio Pires, diretor do Google News Lab no Brasil.
Ante a necessidade de distanciamento por causa da covid-19, também cresceu um movimento de cursos online e lives, que atraíram pessoas interessadas em saber mais sobre o tema. “Com a pandemia, as pessoas viram outras possibilidades. Ao mesmo tempo, há uma melhor compreensão sobre o assunto, de entender mindfulness ou atenção plena como estado psicológico”. Segundo ele, o estado de mindfulness não é concentração, é um estado de estar consciente do que está acontecendo neste momento”. Segundo o médico, o aumento de buscas pelo curso online de oito semanas foi de 50% no período.
Líder de marketing de uma empresa de tecnologia, Michelle Ito, de 35 anos, já tinha familiaridade com a meditação, mas tinha dificuldade de praticar. “Trabalhando em casa, o nível de ansiedade aumentou. Faço ioga há três anos e a professora começou a fazer meditações guiadas aos domingos logo no começo da pandemia. Isso já ajuda a começar a semana bem.”
A assistente administrativa Jessica Braga, de 27 anos, descobriu o mindfulness enquanto enfrentava crises de ansiedade e começou a praticar em junho. “Sempre fui de trabalhar, sair, ir ao cinema, sair com meus filhos. Quando veio a pandemia, fiquei trancada e surtando dentro de casa. Tentava treinar e não focava.” Ela diz que se adaptou às técnicas e passou a praticar antes de dormir e após acordar. “A ansiedade caiu muito.”
Entre os benefícios, Demarzo destaca regulação das emoções e redução da ansiedade. “Na área da educação, melhora a atenção, memória e a aprendizagem. Para empresas, diminui o esgotamento profissional e melhora a liderança. Mais consciente, mais humanizado.” “A pessoa pode optar por meditar no campo da religião e da espiritualidade, dentro de um contexto filosófico do que ela se identifica. A proposta moderna é no contexto acadêmico. É uma técnica para qualidade de vida”, explica Demarzo.
Estadão Conteúdo
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