Comportamento: os desafios da Educação Financeira no Brasil

 É urgente neste momento investir na formação de professores, para que possam ser multiplicadores do saber em sala de aula.

Desde janeiro de 2020, a disciplina de Educação Financeira se tornou conteúdo obrigatório no currículo dos Ensinos Infantil e Fundamental de escolas públicas e privadas por ter sido contemplada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento norteador que define as aprendizagens necessárias a serem desenvolvidas por todos os alunos da Educação Básica.

Cada dia se fala mais sobre a importância da educação financeira no ambiente escolar – mas assegurar o acesso das crianças a esse tipo de conhecimento demanda enfrentar alguns desafios. O primeiro deles está relacionado à insegurança que os professores sentem em trazer o tema para a sala de aula.

Uma pesquisa que mapeou a percepção dos educadores sobre Educação Financeira realizada pela Nova Escola, negócio social que oferece recursos para educadores, deixou esse incômodo evidente.

O estudo levantou que apenas 21,1% dos respondentes informaram ter preparo bom ou muito bom para lecionar o tema, enquanto a maioria (42,3%) entende que seu preparo é razoável e 36,6% o considera ruim ou muito ruim. Realizado em março de 2021, o mapeamento teve a participação de 1.258 educadores da Educação Básica, entre professores, coordenadores e diretores, sendo 80% mulheres.

Entre os respondentes, 62,9% têm entre 31 e 50 anos, e a maioria (79,9%) leciona em escolas públicas (municipais, estaduais, federais e conveniadas). O questionário contou com respondentes de todos os estados da Federação, sendo a maior parte deles (86,2%) professores.

A pesquisa também apontou que 84,3% dos educadores tiveram mudança de hábito financeiro durante a pandemia. A maior parte começou a economizar (58,5%) e uma pequena parcela começou a investir (8,1%). A pandemia nos ajudou a olhar para os nossos hábitos financeiros. Apesar da economia com alguns itens que faziam parte do nosso dia a dia, como transporte, alimentação fora de casa, roupas para sair e eventualmente viagens maiores, o brasileiro acabou gastando mais no mercado, por exemplo.

Nem só de matemática se faz a Educação Financeira

Parte da insegurança dos educadores vem do paradigma segundo o qual apenas professores de matemática podem lecionar educação financeira. Diferentemente do que a maioria acredita, a disciplina pode entrar na sala de aula do Ensino Médio como tema em ciências humanas, itinerário formativo, como eletiva ou projeto de vida, além de estar prevista para ser trabalhada desde os primeiros anos do Ensino Fundamental, por educadores formados em Pedagogia.

A matemática é apenas um dos recursos para a educação financeira, mas sua essência é a de um constructo social. Ela é importante para organizar as finanças, ter orçamento familiar – e viver em sociedade.

Por isso, incentivamos a quebra desse paradigma oferecendo formação de professores em Educação Financeira com cursos, bate-papos e planos de aula. A preocupação não é só nossa: recentemente, vimos a expansão do Programa Aprender Valor, desenvolvido pelo Banco Central (BC), que oferece materiais para Secretarias de Educação e escolas de Ensino Fundamental da rede pública como forma de apoiar a implementação do ensino da Educação Financeira.

Mais de 88% dos professores não se lembra de ter estudado Educação Financeira na escola e apenas 27,8% classifica seu conhecimento sobre finanças como bom ou muito bom, conforme a pesquisa da Nova Escola.

A Educação Financeira só surgiu como tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e como deliberação em 2017. É recente o debate, que veio principalmente com o crescimento econômico no Brasil. Começamos a olhar com cuidado para o tema agora, e é muito importante que isso esteja presente na vida dos nossos jovens.

Por essa razão, é importante investir na formação dos professores. Primeiro, porque eles poderão administrar melhor suas próprias finanças. E segundo pois, mais confiantes com o tema, serão grandes multiplicadores do conhecimento.

Investir nos professores é investir no futuro de toda a sociedade. Esse movimento no Brasil deve ser conjunto, unindo esforços de empresas privadas, governo e sociedade civil.

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