O mercado de combustíveis espera que a Petrobras reajuste os preços do diesel praticados nas refinarias às distribuidoras “a qualquer momento”, de acordo com fontes do setor. Isso ocorre porque os preços do diesel no Brasil estão com forte defasagem em relação ao exterior.
De acordo com os cálculos da XP Investimentos, o preço praticado pela estatal, de R$ 4,51 o litro, em média, estaria 53% abaixo do mercado internacional. Já nas estimativas da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), o diesel da Petrobras está 27% abaixo dos preços internacionais na cotação de hoje e, com isso, precisaria de um aumento médio de R$ 1,71 por litro para chegar ao preço de paridade internacional (PPI).
Apesar de o preço do barril de petróleo ter recuado das máximas próximas aos US$ 140, valor atingido desde o início da guerra na Ucrânia, os preços do diesel seguem altos no mercado internacional, dizem especialistas.
O descolamento do diesel em relação ao petróleo nesse momento reflete principalmente as menores exportações do combustível da Rússia para a Europa, devido à guerra.
“Isso está acontecendo principalmente pela demanda da Europa e a escassez na oferta, há um desequilíbrio. Outro fator são os gargalos logísticos, que estão elevando os preços do frete e impactam na disponibilidade de navios para transporte de derivados”, disse o presidente da Abicom, Sérgio Araújo.
Já nos cálculos da consultoria StoneX o diesel vendido pela Petrobras nas refinarias está 20%, em média, abaixo dos preços internacionais. Na avaliação do consultor em gerenciamento de riscos da Stonex, Pedro Shinzato, o fato de os preços do gás natural também estarem altos tem levado a Europa a substituir o uso do gás para geração de energia em algumas termelétricas, o que aumentou ainda mais a demanda por diesel e, consequentemente, contribui para a alta de preços.
Segundo ele, a alta dos preços no mercado internacional está sendo repassada aos consumidores por importadores privados no Brasil.
“No Brasil, regiões como Norte e Nordeste dependem mais da importação de combustíveis, pois têm menos refinarias. Os preços de combustíveis nessas regiões estão elevados, caminhando próximos aos preços internacionais”, afirma.
Araújo, da Abicom, diz que no momento importadoras menores não estão realizando operações no país, pois não conseguem competir com os preços da Petrobras. Com isso, segundo ele, a importação está sendo realizada principalmente pelas grandes distribuidoras. Atualmente, as refinarias nacionais produzem cerca de 80% do volume de diesel consumido no Brasil, e o restante precisa ser importado.
Especialistas apontam que a defasagem atual nos preços do diesel está próxima à observada quando ocorreram os últimos reajustes. Para a economista da XP, Tatiana Nogueira, é possível que o próximo aumento de preços da estatal ainda não seja suficiente para extinguir a defasagem.
“A Petrobras consegue não repassar totalmente essa defasagem sem perder dinheiro, ela deixaria parte da margem na mesa, mas poderia segurar um pouco os reajustes, até mesmo para ver se o diesel vai reagir a essa recente queda nos preços do petróleo”, afirma.
No caso da gasolina, atualmente, a defasagem é menor do que a do diesel. Nas estimativas da Abicom, a gasolina está 11% abaixo dos preços de importação, com a necessidade de um aumento de R$ 0,45 por litro. Para XP, a defasagem da gasolina estaria em 8,2%. A Stonex, no entanto, calcula que os preços da gasolina estão em linha com o PPI atualmente.
O último reajuste da Petrobras ocorreu no dia 11 de março, quando a estatal elevou em 24,9% os preços do diesel. Na ocasião, a companhia também fez um reajuste de 18,7% na gasolina e um aumento de 16% no gás liquefeito de petróleo (GLP). Os aumentos nos preços foram o estopim que levou à demissão, pelo presidente Jair Bolsonaro, do então presidente da estatal, o general da reserva Joaquim Silva e Luna.
Valor econômico
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