Professor usa músicas censuradas para discutir ditadura militar em sala de aula

   Música e história: Professor potiguar usa canções de resistência à ditadura  para explicar os governos militares no Brasil - Saiba Mais

 Apesar de você’, de Chico Buarque, ‘Tiro ao Álvaro’, de Adoniran Barbosa, ‘Vaca Profana’, cantada por Gal Costa e composta por Caetano Veloso, e ‘Pra Não Dizer que Não Falei das Flores’, foram apenas algumas das músicas censuradas pelo regime militar durante a ditadura militar no Brasil.

As músicas foram a inspiração para o professor e historiador, João Maria Fraga, fazer sua pesquisa de mestrado, trabalhando as canções em sala de aula com os alunos do Marista, uma escola particular de Natal (RN).


Ele relatou que se deparava com a falta de conhecimento e até dúvida de alunos sobre a veracidade do golpe militar de 1964, a existência de uma ditadura e deu os detalhes da pesquisa, além do trabalho com os estudantes no Balbúrdia desta terça (01).

Existiu um golpe militar? Houve ditadura? Houve censura? Houve tortura no Brasil ou isso tudo é um papo criado por setores de esquerda para se vitimizar, contando uma narrativa que é inexistente? Me deparei com situações como essa dentro da minha sala de aula e foi exatamente esse o ponto de partida para que eu resolvesse fazer meu mestrado em ensino de história”, revelou o professor.

A pesquisa coincidiu com período de pandemia e só pôde continuar porque a rede privada de ensino manteve um esquema de aulas remotas com maior regularidade do que as escolas públicas.

O professor acrescentou que, apesar do tema, não teve qualquer problema com a escola ou os responsáveis pelos alunos durante o período dos debates em sala de aula.

A nossa discussão não foi movida pela paixão, trabalhamos numa perspectiva metodológica, científica, baseada em fontes históricas. O historiador não ‘acha’, não trabalha em cima de abstrações, mas de fontes históricas, que é a base fundamental para que a gente construa aquilo que chamamos de verdade histórica. Hoje, mais do que nunca com essa coisa do negacionismo, o professor de História precisa ser em sala de aula um pesquisador, no sentido de levar as fontes para a sala de aula e discutir com os alunos”, conta João Maria Fraga.

A música é uma linguagem universal apropriada por eles e que permite o conhecimento prévio do assunto, tornando a aula mais motivante”, avalia.

As músicas como retrato de uma época


Junto com o professor, os estudantes analisaram seis canções censuradas durante a ditadura militar brasileira.

Dividi o período em três fases: de 1964 a 68, que antecedeu o Ato Institucional Nº 5, que foi trabalhado em sala de aula como parte de um conjunto de legislações que foram estabelecidas nesse período e, inclusive, caracterizam a censura, o regime ditatorial, a supressão das liberdades, inclusive a liberdade de pensamento, de manifestação, opinião. O período de 1968 a 78, que é quando vai vigorar o AI-5, percebemos que nesse período a censura foi mais intensa, embora muita gente ache que não existiu censura de 64 a 68, o que não é verdade. A música ‘Opinião’, de Zé Keti, foi censurada em 64, logo que o golpe ocorreu. De 68, ‘Para Não Dizer que não Falei das Flores’, pegamos essas duas canções para analisar. Pegamos ‘É Proibido Proibir’ e ‘Cálice’ de Chico [Buarque] para analisar de 68 até 78, tempo em que o AI-5 estava em vigor, e ‘O Bêbado e o Equilibrista’ e ‘Vai Passar’, que é o período da abertura, da distensão política que vai de 1979 até 1985, com a eleição do Tancredo. Nós mostramos a ele, que passaram a ter essa compreensão, que a censura não é uma obra dos militares, ela já existia no Brasil e é utilizada, apropriada pelos militares. Ela também foi muito utilizada, do ponto de vista do ordenamento jurídico, na época do Estado Novo”, contextualiza o historiador.

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