A Revolta da Chibata, um dos capítulos mais dramáticos das revoltas no início da República brasileira, teve como protagonista um personagem muitas vezes esquecido nos anais históricos do país: João Cândido Felisberto(foto), um homem que se tornaria símbolo da resistência contra a injustiça e os abusos sofridos pelos marinheiros da Marinha brasileira no início do século XX.
Na virada do século, a promulgação da República não trouxe consigo as mudanças profundas que muitos esperavam. As Forças Armadas continuavam a ser palco de desigualdades sociais gritantes, com os marinheiros, majoritariamente compostos por negros e pobres, enfrentando condições degradantes e castigos físicos brutais. A chibata, um instrumento cruel de punição, era uma prática comum nas embarcações.
O estopim da Revolta da Chibata foi a morte do marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes, espancado até a morte por se recusar a ajoelhar-se diante de um superior. Indignados e cansados de décadas de abusos, os marinheiros, liderados pelo carismático João Cândido, decidiram se rebelar.
Em 22 de novembro de 1910, João Cândido e seus companheiros assumiram o controle de quatro navios ancorados na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. A bandeira da revolta era clara: o fim da chibata, melhores condições de trabalho e tratamento digno para os marinheiros.
A Revolta da Chibata ganhou apoio popular e se tornou um símbolo de resistência contra a opressão. João Cândido, apelidado de "Almirante Negro", liderava não apenas uma revolta naval, mas também uma batalha pelos direitos e pela dignidade humana.
O governo reagiu com força, enviando a Marinha para reprimir os revoltosos. O embate foi intenso, mas a superioridade militar prevaleceu. João Cândido e seus seguidores foram derrotados, e a promessa de mudanças demorou a se concretizar.
O "Almirante Negro" acabou sendo preso e, posteriormente, internado em um hospital psiquiátrico. Sua figura foi apagada da história oficial por muito tempo, mas, com o passar dos anos, a Revolta da Chibata e a liderança corajosa de João Cândido foram reconhecidas como elementos essenciais na luta por justiça social no Brasil.
A Revolta da Chibata, com João Cândido à frente, permanece como um episódio marcante na história do país, lembrando-nos da importância de honrar e preservar a memória daqueles que ousaram desafiar as injustiças e opressões, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
por Iram de Oliveira
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