Singularidade original


Estamos habituados a ver a amizade apenas como um fenômeno da intimidade, onde os amigos abrem mutuamente seus corações sem serem perturbados pelo mundo e suas exigências. Essa concepção parece se conformar integralmente à atitude básica do indivíduo moderno.
Assim, é difícil para nós entender a relevância política da amizade nos dias de hoje. Mas, para os gregos, a essência da amizade consistia no discurso. Sustentavam que apenas o intercâmbio constante de conversas une os cidadãos numa polis. Pois o mundo não é humano simplesmente por ser feito por seres humanos, nem se torna humano simplesmente porque a voz humana nele ressoa, mas apenas quando se torna objeto de discurso.
Por mais afetados que sejamos pelas coisas do mundo, por mais profundamente que possam nos instigar e estimular, elas só se tornam humanas para quando podemos discuti-las com nossos contemporâneos. A amizade não é estritamente pessoal, mas faz exigências políticas e preserva a referência ao mundo em que vivemos.
Humanizar o discurso não é algo que se situe e se organize; estende-se a todos os países do mundo e a todos os seus passados. Todos podem chegar a isso a partir de suas próprias origens. Todos aqueles que se engajam nesse empreendimento reconhecem-se mutuamente. 
Esta humanização não é do ontem nem do amanhã; é do presente e deste mundo. Nenhum acontecimento de alguma importância na história de um país pode se manter como um acidente marginal na história de qualquer outro
Jornal do Brasil

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