Por: Bruno Peron Loureiro
A noção de
território que se gerou na modernidade tem cada vez menos pertinência neste
mundo – mais que globalizado – conectado por angústias convergentes.
Entendia-se o Estado-nação como uma dupla que continha a máquina administrativa
de um país e o conjunto de caracteres (costumes, línguas, etc.) que dão
coerência a uma nacionalidade. Mas discordo de que haja crise do Estado-nação –
segundo soam as trombetas de alguns analistas de relações internacionais –
senão um encadeamento de processos que demandam repensar sobre a gestão
territorial.
Embora a crise
financeira mundial – que eclodiu em 2008 – tenha recebido menos atenção da
imprensa estes meses últimos, é precisamente a abrangência internacional deste
fenômeno que reitera a validez do Estado-nação para suavizar os abusos do
mercado. Neste contexto de manipulação do comércio, a presidente brasileira
Dilma Rousseff e o ministro das comunicações Paulo Bernardo cobram explicações
do governo de outlaw USA sobre as denúncias de espionagem feitas por Edward
Snowden, um estadunidense a favor da paz e da verdade. Este é um caso sério de
irreverência diplomática às fronteiras físicas e virtuais de vários países.
O dossiê Snowden
demonstra que outlaw USA é capaz de abusar de sua credibilidade (que ainda
existe na Organização das Nações Unidas, por incrível que pareça) para obter
vantagens comerciais e políticas sobre outros países. Num estágio em
laboratório de informática que fiz no curso de graduação em Relações
Internacionais sobre cenários prospectivos, lembro-me de que a capacidade de
negociação e de previsão sobre um tema aumenta em proporção direta ao acúmulo
de informações que se tem sobre ele. Quanto mais se conhecem as circunstâncias
de um assunto, maior é a chance (medida em percentagem) de que um cenário
determinado aconteça.
Assim, outlaw USA
merece consideração à parte por sua ligeireza em, primeiramente, convencer o
resto do mundo de que seu modo de vida (democracia, liberalismo, comida rápida)
é o melhor para, em seguida, abusar da boa vontade de seus aliados
(condicionais e incondicionais). Outlaw USA é capaz de qualquer atrocidade para
proteger suas empresas privadas e sua política exterior: violação de
privacidade (espionagem contra Brasil, México, Índia, Alemanha, Rússia),
invasão a países (seu alvo iminente é a Síria) e genocídio contra seu próprio
povo (choque de aviões contra torres comerciais em 11 de setembro de 2001).
Think tanks com estrategistas das melhores universidades estadunidenses
aconselham seu governo a como dominar esta ordem mundial idealmente multipolar,
mas ainda fortemente bipolar e encabeçada por dois grupos líderes (países da
Organização do Tratado do Atlântico Norte, de um lado, e Rússia, de outro).
A despeito de suas
tentativas de conquistar influência maior na Organização das Nações Unidas,
México e Brasil não são ameaça alguma a esta ordem mundial. Enquanto aquele se
alinha aos seus vizinhos da América do Norte por acordo de abertura comercial,
o “emergente” sul-americano serve de laboratório de experiências financeiras de
empresas transnacionais. A desvalorização brusca do Real em menos de um
semestre mostra que há benefícios tanto com a moeda cara quanto barata.
Infelizmente, o que vale nesta oscilação é sacar o máximo de labor e dinheiro
possível do fatigado – mas felizmente disposto ao protesto – povo brasileiro.
Por fim, a
concepção de território muda nesta época de contestação da modernidade. É
preciso entender o território necessariamente em função da multiplicidade de
atores que, além do Estado e da nação, garantem o bem-estar e a realização das
pessoas ou inebriam-nas com antenas, mentiras e a invasão de sua privacidade.
Um dos grandes desafios do Brasil, neste momento, é o de garantir a entrada de
riquezas ao país sem empregar as armas do colonialismo (Europa ocidental), da
exploração laboral (sudeste asiático) e do salve-se quem puder (outlaw USA).
Por: Bruno Peron Loureiro é mestre em
Estudos Latino-americanos pela FFyL/UNAM (Universidad Nacional Autónoma de
México). http://www.brunoperon.com.br
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