Por: Sílvio Persivo
Na semana passada foi notícia em toda a imprensa o resultado do Pisa,
o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que se trata de um
ranking organizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), que é aplicado a 470 mil alunos de 15 anos, oriundos
de 65 países industrializados, incluindo países emergentes, que é,
sistematicamente, feito de três em três anos para comparar os níveis e
os investimentos em educação nos diversos países. Infelizmente, como é
do conhecimento geral, o Brasil, neste século XXI, tem se notabilizado
por não sair das últimas posições. Por mais que se tente despistar o
vexame, a realidade é que estamos em 55º lugar em leitura e compreensão
de texto; em 58º na matemática e 59º em ciências, e, no cômputo geral,
em 55º lugar.
Não é surpresa para ninguém este resultado. Efetivamente a educação somente tem sido prioridade no discurso político e está longe
de ser na prática, no dia à dia. Em relação à educação, em todos os
campos, há muita retórica e pouca mudança. A grande realidade é que os
professores, além de mal pagos, estão completamente desamparados em
escolas normalmente em nada (e muitas vezes em condições muito piores)
do que as do século passado. Cobra-se do professor que resolva os
problemas da educação quando ele, como os alunos, acabam sendo as
maiores vítimas de um sistema que os condena a serem olhados como
coitadinhos, como mera massa de manobra, e de pancada, para a inércia
que torna o sistema educacional o setor mais atrasado de nossa
realidade.
Há uma completa pasmaceira, que é coberta por planos e promessas
falaciosas, como a de investir 10% do PIB na educação. Investir mais
dinheiro na educação do jeito que está é o mesmo que insistir em tratar o
doente dando mais de um remédio que não funciona. A questão real não é
dinheiro, embora o dinheiro possa ajudar, mas, sim de instrumentos, de
gestão, de determinação de mudar, de fato, a educação no país. Um
exemplo fantástico disto é o de que, enquanto as universidades federais e
seus cursos aumentam o número de alunos em condições precárias, se
gastam milhões na criação de novas universidade e escolas técnicas, em
geral em edificações, por razões bastante plausíveis politicamente, mas,
que não resolvem nada em termos educacionais.
Somos um país no qual se cobra dos professores a produtividade dos
professores norte-americanos, que ganham 20% a mais do que a média de
todos os salários do país, enquanto os pobres professores brasileiros
ganham 20% a menos. Como a carreira não é atraente será que os melhores a
procurarão? E, muitos, sem o menor preparo, desprestigiados e
desanimados, ainda enfrentam na sala de aulas jovens que vivem no tempo
da internet, dos vídeos, dos audiovisuais e dos games, com cuspe e giz.
Como resultado será que é de estranhar que 5,3 milhões de brasileiros,
entre 18 e 25 anos, não estudam nem trabalham? Será que espanta saber
que 23% dos jovens da faixa etária avaliados pelo Pisa não estão sequer
na escola e que 70% deles são mulheres, pessoas que, em tempos passados,
seriam as sementes de grandes professoras? É tempo de olhar os
resultados do Pisa como o que eles são: o fracasso do modelo político
brasileiro. Um sinal de alerta de que é preciso acabar com o país de faz
de contas e construir o Brasil real e começar por cuidar, de fato, da
educação.
Por:Silvio Rodrigues Persivo Cunha, é doutor em desenvolvimento sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA da Universidade Federal do Pará e professor de Economia Internacional da UNIR – Fundação Universidade Federal de Rondônia.
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