É hora de abrir o
olho. Estamos no Brasil e no Mundo em situação especialmente perigosa, de que
há copiosas manifestações, cujas causas são sistematicamente ocultadas, pois os
que estão por trás delas, querem operar despercebidos. As potências
hegemônicas, suas associadas e satélites seguem em depressão econômica, com
aspectos mais perversos que os da iniciada em 1930 e que só terminou, em 1943,
nos EUA – com a mobilização de dezenas de milhões de combatentes na Segunda
Guerra Mundial, mais os vultosos investimentos para produzir armas. Na Europa e
na Ásia, a depressão foi substituída pela devastação.
Por: Adriano Benayon
A terrível Guerra
de 1939 a 1945 não foi desencadeada para acabar com a depressão, pois sempre os
móveis são obter mais poder, arruinar potências vistas como rivais e desviar o
foco dos reais problemas sociais e econômicos.
Agora, desde a
contra-revolução liberal dos anos 80, a financeirização e a concentração do
poder econômico e da renda deram grandes saltos, enquanto decai o patrimônio e
a renda real, no caso da grande maioria dos que trabalham e no da crescente
massa dos desempregados.
Essa iniquidade
jamais poderia ser tolerada sob sistemas democráticos. Assim, quase nada resta
do pouco de democracia, antes presente nos sistemas políticos representativos,
hoje mera embalagem, com rótulo falso, de um sistema tirânico, que investe
massivamente em contracultura, desinformação e alienação, há mais de século.
Assim,
institucionalizou-se a mentira, e a verdade é reprimida através de instrumentos
totalitários, radicalizados desde os ataques 11.09.2001.
O terrorismo de
Estado dirige-se contra os cidadãos e é usado para marquetar, como justas,
agressões militares genocidas contra países alvos da geopolítica da oligarquia
angloamericana: Afeganistão, Iraque, Somália e Líbia.
Além disso, EUA,
Reino Unido, Israel e satélites têm intervindo em numerosos países com golpes e
pretensas revoluções suscitadas por serviços secretos, mercenários e
organizações terroristas. Síria e Ucrânia são alvos preferenciais dessas
agressões, sem falar nas permanentes pressões e falsas acusações contra o Irã.
O prelúdio da
Segunda Guerra Mundial, nos anos 30, também apresentou invasões e conflitos
localizados, e a ascensão de regimes fascistas (Itália, Alemanha e Japão), além
de na Espanha, após sangrenta guerra civil, de 1936 a 1939, com participação de
forças militares estrangeiras.
No presente, a
depressão econômica prossegue, bem como suas trágicas consequências sociais. A
oligarquia financeira está cada vez mais concentrada e tem cada vez mais poder
sobre os governos – à exceção dos demonizados, por não se submeterem – pela
mídia e pelas demais instituições formadoras de opinião.
A oligarquia não
deseja acabar com a depressão – tarefa fácil, se fosse decidida – e visa
concentrar mais poder e tornar irreversível o controle totalitário sobre o
Planeta, seus recursos e habitantes. Isso envolve desumanizar os seres humanos,
inclusive acabando com as sociedades nacionais.
As soluções para
recuperar a economia podem ser entendidas por qualquer pessoa sensata, não
bitolada por lugares comuns disseminados pelos economistas mais renomados
(justamente por agradarem a oligarquia).
A depressão dos
anos 30, explodiu com violência, notadamente na Alemanha, exaurida pelas
reparações da 1ª Guerra Mundial. Ali o desemprego atingiu 6 milhões em março de
1932.
Economistas
competentes, como Lautenbach, alto funcionário do ministério da economia,
mostraram o caminho correto, apoiado pela federação das indústrias, semelhante
ao plano de Woytinski, sustentado por sindicatos de trabalhadores.
Em 1931,
Lautenbach apresentou o memorandum “Possibilidades para reviver a
atividade econômica, através do investimento e da expansão do crédito”.
Afirmou:
“O curso para
superar a emergência econômica e financeira não é limitar a atividade
econômica, mas aumentá-la, porque o mercado não mais funciona nas condições de
depressão e crise monetária mundial.”.
“Neste
momento, temos situação paradoxal, na qual, apesar dos cortes extraordinários
na produção, a procura ainda está defasada em relação à oferta. Assim, temos
excedentes crônicos da produção, com os quais não sabemos lidar. Encontrar
algum modo de transformar esses excedentes em valor real é o problema real e o
mais urgente da política econômica.”.
“Excedentes de
bens físicos, capacidade não-utilizada dos equipamentos produtivos e força de
trabalho não-aproveitada podem ser aplicados para satisfazer uma nova
necessidade, a qual, do ponto de vista econômico, representa investimento de capital.
Podemos conceber tarefas como obras públicas, ou obras realizadas com apoio
público – que para a economia significariam aumento da riqueza nacional – e que
teriam de ser feitas de qualquer modo, quando se voltasse a ter condições
normais (construção de estradas, expansão do sistema ferroviário, melhoramentos
na infra-estrutura, etc.)”.
“Com tal
política de crédito e investimentos, será remediado o desequilíbrio entre a
oferta e a procura no mercado interno, e toda a produção terá ganhado direção e
objetivo. Se, todavia, deixarmos de instituir tal política, estaremos
encaminhados para inevitável e continuado colapso e para a completa destruição
da economia nacional, levando-nos a uma situação que nos forçará, para evitar
uma catástrofe, a assumir dívidas de curto prazo meramente para fins de
consumo; enquanto que hoje, está ainda em nosso poder obter esse crédito para
fins produtivos e, assim, recolocar em equilíbrio tanto a economia como as
finanças públicas.”.
Woytinski
recomendou explorar oportunidades de complementar as iniciativas das empresas
privadas com a criação de empregos, através de investimentos públicos. Propôs,
ainda, a liberação de fundos, via políticas de expansão monetária para a
reconstrução da Europa.
Em janeiro de 1932
foi apresentado o plano de criação de empregos WTB (Woytinski, Tarnow e Baade)
para criar 1 milhão de novos empregos, com investimentos financiados por
créditos de longo prazo, a juros baixos, pela Reichskredit AG, descontáveis no
Reichsbank.
A Confederação
Geral dos Trabalhadores Alemães aprovou esse plano, recusado, entretanto,
conforme o parecer dos “peritos economistas” Hilferding, Naphtali e Bauer, pelo
Partido Social-Democrata..
Schäffer,
secretário de Estado do ministério das Finanças, apoiou o plano de Lautenbach.
Moção similar partiu de Wagemann, chefe do Escritório Nacional de Estatísticas,
que, em janeiro de 1932, publicou seu plano, que incluía emitir 3 bilhões de
reichsmarks para criar empregos.
Nada disso foi
adiante, pois não interessava à oligarquia angloamericana. Esta armava a subida
de Hitler ao poder, mesmo tendo os nazistas perdido 2 milhões de votos nas
eleições de 6.11.1932.
Após essas
eleições, o presidente, marechal Hindenburg, nomeou chanceler o chefe do
Estado-Maior, general von Schleicher, que propunha pôr em execução as políticas
recomendadas por Lautenbach, Woytinski e Schäffer, e apoiadas por entidades de
classe patronais e dos trabalhadores.
A oligarquia
financeira tratou de evitar que von Schleicher sequer as iniciasse, minando-lhe
a sustentação política, enquanto conspirava na chantagem junto ao
marechal-presidente para nomear Hitler, consumada em 30.01.1933.
O objetivo era a
Segunda Guerra Mundial, pois Hitler anunciara no “Mein Kampf”
seu desígnio de atacar a União Soviética. Finalidade: empregos e recuperação
econômica só mediante a mobilização para a guerra, que destruiria mutuamente
Alemanha e Rússia.
Hoje, o Estado é
enfraquecido como agente de desenvolvimento econômico e social. Ele serve, nos
países-sede da oligarquia, para erguer enormes arsenais de armas destrutivas e
hipertrofiar órgãos de repressão, serviços secretos e meios tecnológicos de
desinformar.
Nos países
periféricos, como o Brasil, o Estado, empobrecido pelo serviço da dívida e
pelas privatizações, funciona para arrecadar recursos para a dívida e subsidiar
empresas transnacionais.
Com a política
econômica dominada pela oligarquia financeira, a concentração não cessa de
crescer. No trabalho The Network of Global Corporate Control, publicado
em 2011, os matemáticos suíços, Vitali, Glattfelder e Battiston, demonstraram a
interligação das corporações econômicas e financeiras por laços diretos e
indiretos de propriedade.
Com dados sobre
43.000 transnacionais (ETNs), chegaram a 1.300 maiores companhias com fortes
elos entre si, núcleo refinado para um de só 737 companhias, que controlam 80%
das 43.000. Mais elaboração permitiu chegar a 147, detentoras da propriedade
quase total sobre si mesmas, mais 40% das 43.000.
As 147 são
basicamente controladas por somente 50, das quais 48 são financeiras. Apenas
duas envolvem-se diretamente com a economia real (Walmart e China Petrochemical
Group).
Susan George, do
Transnational Institute, Amsterdam, conclui: “Nossos problemas originam-se
do 0,1%, na verdade do 0,001%.”. Mas essa fração não retrata a dimensão
infinitesimal, em relação à população da Terra, da minoria que concentra o
poder econômico, financeiro e político.
De fato, existe
hierarquia entre os donos das companhias mais poderosas, e, entre esses, muito
poucos exercem comando sobre bancos centrais, instituições financeiras
multilaterais e mercados financeiros.
George aponta as
interligações entre a finança e as corporações de petróleo e gás, e seus
vínculos com a indústria automotiva, gastadora de combustíveis fósseis.
O poder dos
concentradores financeiros manifesta-se, inclusive, pelo fato de o 1% do topo
pagar percentual de tributos inferior ao de qualquer época desde os anos 20,
apesar da enorme elevação de seus ganhos e de seu patrimônio nos últimos 35
anos.
Mais: dezenas de
trilhões de dólares/euros das emissões dos bancos centrais e das receitas
tributárias foram usados para salvar da bancarrota instituições financeiras
cujos controladores e executivos haviam lucrado dezenas de trilhões com jogadas
financeiras, em operações alavancadas, sobre tudo com o quatrilhão de
derivativos criados a impulsos de chips, antes do colapso de 2007/2008.
Pior: o dinheiro
posto nos bancos é aplicado em novas especulações, criando novas bolhas,
prestes a estourar. A conta fica para os cidadãos dos países endividados,
inclusive dos EUA, e maior para os dos menos privilegiados que não podem emitir
dólares.
No Brasil,
recordista mundial de juros altos, só dois bancos, Itaú e Bradesco registraram
R$ 28 bilhões de lucros em 2013.
Texto publicado no
jornal Grito
Cidadão.
Por: Adriano
Benayon é doutor em
economia e autor do livro Globalização
versus Desenvolvimento.
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