Costumo cultivar uma tese relevante: a de que as coisas não devem ser
tão facilmente descartadas. Muitas pessoas se cansam logo do que
possuem e se atiram, irrefletidamente, à troca de tudo o que é passível
de substituição. Fazem decoração nova na casa a cada ano, renovam também
o guarda-roupa, compram e consomem de forma quase irracional, pondo de
lado objetos e peças em perfeito estado de uso. Talvez por modismo, ou
por pura veleidade.
Por: Marisa Bueloni
Hoje, a ordem é reciclar e aproveitar tudo o que pode ser
reutilizado. Vivemos tempos críticos, onde a questão do aquecimento
global tem inspirado alguns líderes políticos na cruzada em defesa do
planeta. O consumo desmedido e irresponsável deverá ser repensado, pois
ele tem sua parcela na contribuição ao aquecimento. Será necessária uma
revisão dos nossos hábitos e estilos de vida, da cultura da abundância e
do desperdício, por meio da conscientização de que devemos extrair da
Terra o suficiente para a nossa sobrevivência.
Vemos em toda parte uma brutal incitação ao consumo. Todos nós
precisamos adquirir o necessário para o bem estar do dia-a-dia,
consumindo o que está ao nosso alcance. Contudo, a febre de comprar pode
se transformar numa armadilha perigosa. Os desavisados caem fácil nesta
rede sutil, sem considerar muito bem a razão de se gastar uma pequena
fortuna em algo dispensável. Quanta coisa inútil se compra no apelo de
um impulso e logo depois descartada. Se ao menos as pessoas se
lembrassem de doar, de repartir com quem nada tem.
Diz um leitor que, nos dias de hoje, até mesmo os casamentos são
“descartáveis”, as uniões acabam em pouco tempo. E por que isso está
ocorrendo em escala assustadora? Mudou o casamento ou mudaram as
pessoas? Minha mãe dizia que, para casar, uma pessoa precisa ter uma
virtude primordial: a paciência. Paciência para a vida a dois, paciência
para criar os filhos.
Os pais de hoje, embora se esforcem, devem estar inseguros e
confusos no quesito “educação”. E quando os jovens cometem toda sorte de
delitos, culpam-se os pais. Na tevê, o pai de família reage
assustadíssimo, atônito, ao saber que o filho participou de um roubo, de
um crime.
A sociedade está vivendo um momento de grande desequilíbrio, os
valores estão se invertendo de uma forma cruel. A crônica policial da
vida é extensa e os casos são aterradores. O que haverá por trás de cada
um deles? Certamente, falta de amor, falta de Deus.
Ninguém mata, se tem Deus no coração. Ninguém manda matar, se
ama e se é amado, se conheceu um dia a grandeza do amor e da proteção.
Cresce feliz e saudável aquele que abraçou e foi abraçado, ainda que
seja na pobreza ou na posse de poucos bens.
É feliz a família cujos membros se respeitam, onde os filhos
podem contar com pais que os ouvem. Grandiosa é a bênção da paz e da
harmonia no lar, quando se reconhece a autoridade paterna. Quão
importante é a confiança, o colo da mãe, o ombro do pai, a força do
relacionamento franco, equilibrado e amoroso. É esta disponibilidade,
esta aproximação de afetos que fazem bater mais forte o coração da vida.
Por: Marisa Bueloni mora em Piracicaba, SP. Formada em Pedagogia e Orientação Educacional. É membro da Academia Piracicabana de Letras – marisabueloni@ig.com.br
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