O que acontece quando o poeta encontra a poesia? Deve ser um evento
de sublime natureza, creio eu. Penso que hoje deveria brindar os
leitores com uma crônica de alta voltagem e trazer um pouco de reflexão a
este nosso mundo caótico.
Por: Marisa Bueloni
Quem sabe, um texto poético, para este universo eclético?
Teríamos tanto a dizer, a expressar, a escrever. Ficamos entre um tema e
outro e, se não nos decidirmos logo, não sairemos do lugar.
A vida urge. O tempo não para, já dizia Cazuza, que foi um
destes poetas desgraçados que a vida acabou de desgraçar. Por uma
escolha pessoal. Havia nele o perigoso amálgama de sonho, rebeldia,
profecia e verdade. Soube misturar tudo isso, com segredos de
liquidificador, assim como o fez Renato Russo, deixando à mostra o nervo
exposto da sua dor e da sua angústia existencial.
Existir não deveria ser angustiante. Viver deveria ser a mais
bela das aventuras, mas nem sempre é assim. Se eu escrever aqui que a
vida é feita de escolhas, estarei repetindo a frase mais repetida dos
feicebuques da vida.
No entanto, cada um escolhe o próprio caminho. Verdade que uns
são empurrados para um tipo de vida e de atividade que nem sempre teriam
escolhido, se lhes fosse dado escolher.
Existe, e é notório, um contingente de sábios que consegue mudar
o rumo a seguir e fugir do recurso comum, que a todos é apresentado
como norma e ponto final. Mas, poucos escrevem para si mesmos uma
história verídica, com todas as nuances autênticas, incluindo o som das
palavras em sua nudez e em sua crueza.
Quando a alma do poeta encontra a poesia em estado puro, algo
acontece à sua volta. Num de seus versos, deixou claro que deveria ir
fundo, onde tudo se revele. Na textura dos ossos, no limite da pele.
Contudo, é preciso coragem para “ir fundo” e viver o que há de
mais latente dentro da alma, nas profundezas do ser, no recôndito de
cada desejo. Ao poeta é dado este discernimento quase sobrenatural. Não
contrariar uma ordem divina, jamais.
Segue o poeta uma vida de leis que ele não entende, mas obedece,
não por comodismo ou falta de questionamento, mas porque assim é e
assim lhe basta. Ele sabe que a paz não tem preço e que o sonho habita
seu coração.
O poeta pensa duas vezes, antes de qualquer coisa. Imagine só. O
que estou afirmando? Duas é pouco. Mil vezes, um milhão de vezes. Passa
noites insones à procura de uma solução, tanto para o verso como para a
vida.
A vida terá solução? É a pergunta que faz tremer sua poesia
pequenina, sem pretensão alguma. Poeta humilde é assim: colhe a flor do
caminho e agradece a Deus por esta dádiva. Afinal, o que mais poderia
ele desejar?
Só umas coisinhas, bem simples. Um banho quente depois de um dia
cansativo; a cama aconchegante para dormir o sono dos anjos; um café da
manhã onde não faltem fruta e pão com manteiga. Depois, seja o que
Deus quiser.
O poeta começa o seu dia, igual a todos os mortais. Não escapará
da dor, do sofrimento, da luta diária, porque a poesia jamais o
salvará. Ele sabe disso.
Por: Marisa Bueloni mora em Piracicaba, SP. Formada em Pedagogia e Orientação Educacional. É membro da Academia Piracicabana de Letras – marisabueloni@ig.com.br
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