Cenas de alunos brigando entre si, agredindo professores ou sendo
atacados por profissionais que deveriam ensinĂĄ-los sĂŁo cada vez mais comuns nas
redes sociais e em noticiårios da TV. Por: José Renato Salatiel
Os casos acontecem desde os anos 1990 – quando surgiram as primeiras
discussĂ”es de especialistas sobre o assunto – e estĂŁo relacionados com o
aumento da criminalidade nas grandes cidades, verificado na mesma época.
O crime mais marcante ocorreu em 7 de abril de 2011, quando doze
adolescentes com idades entre 12 e 14 anos foram mortos a tiros na escola
municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro do Realengo, zona oeste do
Rio de Janeiro. O atirador, Wellington Menezes de Oliveira, era um ex-aluno que
teria sido vĂtima de bullying.
Segundo a pesquisa mais recente sobre o assunto, divulgada em 9 de maio,
quatro em cada dez professores jĂĄ sofreram algum tipo de violĂȘncia em escolas
do Estado de SĂŁo Paulo. O levantamento, realizado pelo Instituto Data Popular e
a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de SĂŁo Paulo),
entrevistou 1.400 docentes da rede estadual de 167 cidades.
Os dados comprovam o que educadores jĂĄ sabiam: a fronteira entre a
escola e a violĂȘncia das ruas deixou de existir. Vandalismo, agressĂ”es,
confronto entre gangues, roubos, tråfico e até assassinatos passaram a fazer
parte da rotina escolar.
De acordo com a pesquisa, intitulada “ViolĂȘncia nas escolas: o olhar dos
professores”, 72% dos professores jĂĄ presenciaram briga de alunos, 62% foram
xingados, 35% ameaçados e 24% roubados ou furtados. A situação é pior em
bairros de periferia, onde 63% dos profissionais consideram a escola um espaço
violento. A insegurança no trabalho, de acordo com os coordenadores do estudo,
Ă© comum entre os docentes.
Drogas
Mas, porque a escola deixou de ser uma referĂȘncia de segurança e de
futuro melhor para crianças e adolescentes para se tornar um ambiente de medo?
Na opinião dos professores entrevistados (42%), as razÔes estariam no
uso de drogas por parte dos alunos. O trĂĄfico, muitas vezes, acontece dentro
dos prĂłprios estabelecimentos de ensino.
Psicólogos e pedagogos apontam ainda a educação recebida em casa. Os
pais sĂŁo muito permissĂveis em relação o comportamento dos filhos ou muito
agressivos. De qualquer forma, de acordo com especialistas, a falta de valores
familiares seria um dos motivos da violĂȘncia.
Apontam-se, também, fatores como a exclusão social a falta de
perspectiva em relação ao futuro profissional e acadĂȘmico. A educação, nesse
sentido, deixou de ser uma alternativa ao ciclo de pobreza e desagregação
familiar vivido por estudantes de periferias.
Entretanto, uma pesquisa mais abrangente, publicada pela Unesco em 2003,
concluiu que nenhuma dessas explicaçÔes, isoladas, respondem Ă questĂŁo. Ă
preciso, de acordo com a Unesco, analisar um conjunto de causas externas (como
o fĂĄcil acesso a armas e drogas no entorno das unidades de ensino) e internas,
que interagem entre si.
Entre os aspectos internos são apontados a falta de segurança nas
escolas e o descontentamento de alunos com a disciplina, a estrutura e a
qualidade de ensino. Segundo a Unesco, a violĂȘncia Ă© uma das principais razĂ”es
para o abandono dos estudos.
Para especialistas, programas educativos que envolvam a comunidade e
discutam o tema com alunos e familiares apresentam resultados positivos na
redução da violĂȘncia nas escolas. Os governos investiram, ao longo dos anos, em
rondas escolares, sistema de vigilùncia por cùmeras e proteção dos prédios com
muros altos, grades e cadeados. Também são promovidos eventos, palestras e
oferecidos cursos de mediação de conflitos em escolas pĂșblicas para educadores.
Por: José Renato Salatiel,
Pedagogia e Comunicação
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