
Polícia Federal afirma já ter elementos suficiente para  condenação do grupo Edvaldo Fagundes  
A Polícia Federal do Rio Grande do Norte, a Receita Federal do Brasil
 e o Ministério Público Federal deflagraram ontem a Operação Salt para 
desmantelar suposta organização criminosa voltada à prática de delitos 
tributários, lavagem de dinheiro e outros crimes. A operação cumpriu 23 
mandados de busca e apreensão em Mossoró, Catolé do Rocha, Grossos, 
Fortaleza e Macau, em 13 endereços de empresas e dez de pessoas físicas.
 
A
 investigação, que durou aproximadamente seis meses, revelou que a 
organização criava empresas nos ramos de carcinicultura, tecelagem, 
salineiro, venda de veículos e combustível, encabeçadas pelos chamados 
"laranjas", a fim de sonegar tributos e promover lavagem do dinheiro. O 
nome da Operação Salt (em inglês), sal em português, se deve à atuação 
do principal investigado, que é empresário do ramo salineiro na região 
Oeste do Estado: Edvaldo Fagundes de Albuquerque.
 
A fraude imputada 
ao grupo gira em torno de R$ 430 milhões, número que pode ser 
ultrapassado após a análise dos documentos apreendidos nas sedes das 
empresas e das pessoas físicas envolvidas. A operação mobilizou 90 
policiais federais e 26 auditores da Receita Federal, e apreendeu quase 
R$ 100 mil em dinheiro, um helicóptero, carros de luxo, joias e 
documentos.
PROVAS
 
Em entrevista coletiva ontem, em Mossoró, o
 delegado Rubens França, da Delegacia de Combate ao Crime Organizado da 
Polícia Federal, explicou que o objetivo da operação é coletar mais 
provas relacionadas aos crimes de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e
 organizações criminosas. "Veículos, dinheiro, joias e farta 
documentação apreendidos auxiliarão no inquérito policial", informa.
 
Segundo
 ele, o trabalho começou com atuação da Procuradoria da Fazenda 
Nacional, que pediu o sequestro de vários bens do grupo econômico de 
Edvaldo Fagundes. A partir daí, a Procuradoria, Polícia Federal e 
Receita passaram a trabalhar de forma conjunta. "Já temos elementos 
suficientes para condenação desses indivíduos, porque fomos buscar mais 
elementos que viessem a corroborar essas provas que já temos nos autos",
 afirma França.
Procurador acusa grupo de praticar cinco crimes
O procurador da República Vitor Mariz explica que o conglomerado 
opera por meio de "paper companies", ou empresas de papel. "Através de 
laranjas, havia confusão patrimonial e sucessão empresarial. Uma parte 
das empresas ficava com o 'filé', ou seja, o patrimônio, e outras 
empresas ficavam com as dívidas, mas totalmente esvaziadas".
 
Ele 
informa que o sequestro de bens busca preservar o patrimônio da Fazenda 
Nacional, porque muitos dos bens foram adquiridos com dinheiro ilícito. 
"O material apreendido será encaminhado ao Ministério Público Federal, a
 quem caberá instauração de ações penais, bem como identificação dos 
autores desses crimes, que são apropriação indébita previdenciária, 
sonegação fiscal, falsidade ideológica, associação criminosa e lavagem 
de dinheiro", diz.
Empresário foi principal financiador de Cláudia Regina
Em junho deste ano, a juíza Emanuela Mendonça Santos Brito, da 8ª 
Vara Federal, decidiu bloquear R$ 212 milhões e 517 mil referentes à 
execução fiscal ajuizada pela União. O volume financeiro é referente a 
32 empresas e 29 pessoas que integram o Grupo Líder, comandado pelo 
empresário mossoroense Edvaldo Fagundes.
 
O empresário foi o principal
 financiador da campanha eleitoral da hoje prefeita Cláudia Regina 
(DEM). Dos R$ 3.154.654,28 arrecadados por ela no ano passado, R$ 
473.264 foram dados de forma oficial por Edvaldo Fagundes e suas 
empresas.
 
Na lista de bens bloqueados nem todas as empresas de 
Edvaldo que doaram para a campanha aparecem. Um exemplo é a Tecidos 
Líder, que doou R$ 8.764,20. Curiosamente, conforme a assessoria de 
imprensa da Justiça Federal potiguar, a Tecidos Líder foi a ré 
originária da ação.
 
O empresário ainda colaborou com a cessão de 
carros, entrevistas como a que anunciou que se Cláudia vencesse ele 
doaria o dinheiro ganho em apostas e até um helicóptero apelidado de 
"rodocóptero".
 
Uma nora de Edvaldo, Tammy Mendes Gurgel, foi nomeada 
para o cargo em Comissão de Chefe do Departamento Administrativo da 
Vice-Prefeitura de Mossoró.
Empresas têm mais de R$ 430 milhões em débitos
Delegado da Receita Federal no Rio Grande do Norte, Willo Marques diz
 que o grupo econômico liderado por Edvaldo Fagundes possui 37 empresas 
investigadas, as quais tem mais de 430 milhões em débitos apurados de 
cobranças administrativas e judiciais em dados de junho de 2013.
 
Marques
 revela que tudo começou em 2004, com autos de infração emitidos pela 
Receita Federal. "O primeiro auto foi no valor de R$ 12 milhões, ainda 
antes da fusão da receita federal com a receita previdenciária. De lá 
para cá houve sucessão de autos de infração e de fiscalização, que deram
 origem a representações fiscais para fins penais, de autoria do 
Ministério Público, e inscrições na dívida ativa da União, via 
Procuradoria da Fazenda Nacional. E daí a cobrança se desenrola na 
Justiça", conta.
 
Ele acrescenta que as empresas de Edvaldo Fagundes 
não recorriam aos autos de infração, diferentemente de outras empresas 
autuadas, o que levantou suspeita. "Os autos tramitavam até a execução 
judicial, mas não se encontrava mais nenhum bem no nome dessas empresas.
 Entre a constituição do débito e a cobrança, o patrimônio da empresa 
era esvaziado", diz.
O Mossoroense
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