Por: Deborah Fernandes 
Revista Época de circulação nacional faz ampla matéria sobre situação caótica das penitenciárias do Estado
A edição da revista Época deste final de semana traz como um dos seus
 destaques a reportagem “O próximo Maranhão?”. A matéria de quatro 
páginas e com direito a destaque na capa, faz uma comparação entre 
Alcaçuz, o maior presídio do Rio Grande do Norte, com o de Pedrinhas, em
 São Luís (MA). E vai além, dizendo que o RN pode vir a se transformar 
no novo caos do sistema carcerário brasileiro.
A matéria relembra a visita do ministro Joaquim Barbosa, presidente 
do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Rio Grande do Norte no ano passado,
 quando veio fazer uma inspeção em Alcaçuz, em abril. “É muito 
desumano”, disse o ministro no período, quando presenciou “urina 
escorrendo pelas paredes, forte cheiro de fezes e celas e corredores 
escuros e sem ventilação”, diz a revista. Um novo relatório do CNJ, 
obtido pela Época, referente a uma vistoria feita em dezembro, 
acrescenta novos dados sobre o problema.
Os relatos da última vistoria revelam que “o quadro não deixa dúvidas
 de que, se nada for feito rapidamente, o Rio Grande do Norte é forte 
candidato a se tornar o próximo Maranhão”, alerta a revista. Segundo a 
publicação, o presídio tem 800 presos, em um local onde caberiam apenas 
600, sob custódia de apenas oito agentes penitenciários. “As visitas 
íntimas ocorrem de forma promíscua no meio do pavilhão, além disso, os 
confinados não recebem atendimento médico, mesmo muitos deles sofrendo 
com doenças infecciosas, como a tuberculose. Cenário considerado 
perfeito para nutrir atitudes monstruosas”, detalha a revista.
A Época relembra um dos casos de maior barbárie já registrados em 
presídios potiguares. Conhecido como Pai Bola, Antonio Fernandes de 
Oliveira já foi motivo de várias matérias na imprensa potiguar. “Em 
novembro de 2009, ele foi capaz de desferir 120 golpes de faca artesanal
 numa vítima que lhe negou o celular. Seis meses antes, matara outro 
interno por asfixia, usando um lençol. Dois anos depois decapitou um 
colega de cela, comeu literalmente seu fígado e depois espalhou suas 
vísceras pelas paredes”, relatou a revista.
A última vítima do criminoso foi em 2012, um religioso que foi 
liberado para ler a bíblia para Pai Bola. O homem acabou sendo 
esfaqueado e morto. Mesmo com todos esses crimes, apenas na semana 
passada a Justiça mandou uma correspondência ao presídio em busca de 
algum atestado sobre a saúde mental do assassino. O Ministério Público 
Estadual pediu que seja declarada a insanidade dele.
Ainda de acordo com a reportagem, o juiz Henrique Baltazar dos 
Santos, da Vara de Execuções Penais, explica a violência na 
penitenciária. “Ele conta que as facas usadas para matar são feitas com 
pedaços de ferro extraídos das próprias celas. Não são compridas o 
suficiente para atingir um órgão vital nem muito afiadas. Por isso, são 
necessários vários golpes para matar. O assassino geralmente começa o 
ataque pelo pescoço para deixar a vítima sem reação”. O Conselho 
Nacional de Justiça elaborou um relatório que enumera 20 assassinatos de
 presos dentro de Alcaçuz desde 2007, até a visita do Ministro Joaquim 
Barbosa.
Revista também critica governos
A revista ÉPOCA faz comparações entre as gestões estaduais do Rio 
Grande do Norte e do Maranhão para confirmar a situação carcerária nos 
dois Estados. “Ambos também têm em comum, governos poucos eficientes na 
aplicação de verbas no sistema penitenciário. Conforme dados da Justiça 
do Rio Grande do Norte, a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) prometeu 
investir R$ 6 milhões em 2013 na reforma de estabelecimentos penais para
 abrir mais 500 vagas, mas aplicou apenas R$ 2 milhões. Roseana Sarney 
(governadora do Maranhão) precisou devolver R$ 22 milhões ao Ministério 
da Justiça porque deixou de apresentar projetos que atendiam às 
exigências técnicas para a construção de presídios”.
O Governo do RN joga as responsabilidades para gestão anterior da 
ex-governadora Wilma de Faria (PSB), e afirma que se criou uma espécie 
de presídio no papel. “Sem nenhuma reforma, Wilma simplesmente 
transformou, numa canetada, delegacias da Polícia Civil em centros de 
detenção. Atualmente, cerca de 1.430 presos, o que corresponde a 20% da 
população carcerária, cumprem penas nesses locais, muitas vezes sem 
banho de sol nem segurança contra fugas”, relatou a revista.
A diretora do presídio de Alcaçuz, Dinorá Simas Lima Deodato, afirmou
 que não houve melhorias, mesmo após a visita do ministro, e estava 
disposta a mostrar o interior da penitenciária quando foi surpreendida 
por um telefone da Secretaria Estadual de Justiça, que negou a entrada 
da equipe.
Aos jornalistas do veículo, Dinorá mostrou um saco de cimento e 
alguns tijolos, comprados para reformas no presídio, mas que continuavam
 no pátio de entrada da penitenciária. “Essa é a providência mais 
visível da administração da governadora Rosalba Ciarlini contra o caos 
nos estabelecimentos penais e em resposta ao alerta do CNJ”, finaliza a 
matéria.
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