Qualquer pessoa que usa redes sociais um dia já se deparou com discussões sobre política em uma postagens que pouco ou nada tinham a ver com o assunto. As plataformas como Facebook, Instagram, X e WhatsApp viram palanques e refletem um cenário de polarização política que persiste no Brasil mesmo um ano após o resultado das eleições de 2022.
O fenômeno é comum nas redes sociais do Metrópoles. A sessão de comentários de postagem no X (antigo Twitter) sobre a notícia do indiciamento de dois filhos por abandonarem pai de 75 anos, por exemplo, virou palco de uma discussão entre apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na última quinta-feira (5/10).
A polarização começou com um primeiro comentário dizendo: “A família tradicional brasileira”. Um segundo internauta rebateu escrevendo “fizeram o L” . Uma mulher respondeu, em alusão a um gesto famoso do ex-presidente Jair Bolsonaro: “Fizeram arminha na verdade”. O homem então reafirma: “Não, fui pesquisar, fizeram o L. Abandonaram o pai por amor.”
A polarização política no Brasil entre apoiadores de Lula e Bolsonaro segue no mesmo patamar do ano passado, quando foi realizado o pleito. É o que aponta a pesquisa Datafolha publicada em 14 de setembro. Segundo o instituto, 29% do eleitorado apoia Lula, enquanto 25% se coloca ao lado de Bolsonaro.
O cenário é muito similar ao observado em dezembro de 2022, quando 32% se diziam petistas e 25%, bolsonaristas. O fenômeno é refletido nas redes sociais, onde usuários discutem por política até mesmo em publicações que nada tem a ver com o tema.
Também na rede social X, um vídeo publicado na última semana mostra o cantor Leonardo dando um chute em direção a um pônei de sua neta. O comentário mais curtido da postagem já associa o fato à política: “Fico besta que vocês ainda esperam coisas boas de bolsonarista”. Ele logo é respondido por outro homem que o acusa de “demência”: Os coisa consegue ligar tudo ao Bolsonaro, pqp (sic), é demência, só pode.”
O cientista política especialista em democracia e comunicação digital Maria Carolina Lopes explica que este comportamento é conhecido como marketing de gerrilha, “uma disputa de espaços para ganhar visibilidade e projeção nas redes.” Segundo ela, na política não é diferente, “especialmente quando as bases ainda estão mobilizadas”.
“Isso pode até ser inconsciente, como muitos hábitos que fomos incorporando com o uso do celular. Da mesma forma que muita gente acorda e nem percebe que pega o celular, muitos hábitos da guerrilha política já estão arraigados nas bases, e não é porque a eleição acabou que essas bases são desmobilizadas”, complementa a especialista.
Existem alguns gatilhos que desencadeiam mais polêmica e, consequentemente, essas ações de guerrilla: insólito, religião, sexo/pudor, violência, temas que despertam emoção.”, aponta a especialista Maria Carolina Lopes.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Reuters em 2022 revela que 2 a cada 3 brasileiros dizem precisar tomar cuidado ao discutir política nas redes sociais.
O levantamento foi feito nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia e Brasil. Os índices no Brasil foram os mais altos: quase dois terços dos brasileiros dizem que tomam cuidado ao discutir no WhatsApp (64%) e no Facebook (68%). Além disso, 64% são cautelosos para não discutirem fora das plataformas.
A pesquisa também constatou que entre os grupos mais interessados em política, um terço dos brasileiros disse ter parado de falar com algum conhecido nos últimos 12 meses por discussões sobre política no Facebook (32%) e WhatsApp (31%).
MSN
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