O estudante Emanuel Gentil Lopes Bezerra, de 15 anos, já coleciona três medalhas na Olimpíada Brasileira de Educação Financeira (OBEF), das quais duas foram na etapa nacional. Para ele, que sempre teve afinidade com os números, mais do que a conquista, a participação lhe proporcionou novas perspectivas à administração financeira. No Rio Grande do Norte, a OBEF recebe a coordenação do Departamento de Ciências Contábeis (DCC) da UFRN, tendo como propósito formar cidadãos com educação financeira e melhorar a economia local no futuro. No Estado, pelo menos 11 escolas participaram do projeto neste ano, das quais apenas duas são públicas, e dois estudantes receberam medalha nacional. Na etapa regional, considerando as edições de 2018 a 2022, 76 estudantes foram medalhistas.
O coordenador da OBEF na UFRN, o professor Renato Gurgel, esclarece que o projeto acontece em rede com universidades federais de todo o país. Anualmente, cada instituição lança um edital com o objetivo de chamar tanto as escolas públicas quanto privadas para participarem voluntariamente do projeto, tendo como público-alvo alunos dos ensinos fundamental e médio. Na olimpíada, composta por três fases, são realizadas duas provas no âmbito escolar e uma na universidade coordenadora. Os participantes que passam pela segunda fase, recebem medalhas a nível estadual em três colocações: 1º (ouro), 2º (prata) e 3º lugar (bronze).
Uma vez classificados, os alunos têm a oportunidade de participar da prova nacional na universidade, também responsável por classificar os estudantes em três posições. Embora a UFRN não capacite os professores no momento, o projeto orienta sobre os materiais que podem servir de preparação aos alunos e promove a correção das provas do Estado. “Além da aplicação da prova, o objetivo final do projeto é formar cidadãos com educação financeira desde o ensino fundamental. Não é apenas formar quando o estudante já está recebendo a mesada, a informação já [deve ser ofertada antes] para que ele possa ter controle sobre o consumo e investimentos”, complementa o docente.
Para Emanuel, aluno de uma escola privada de Upanema, no interior do Rio Grande do Norte, a experiência na atividade é observada como um preparo para os desafios futuros no âmbito das finanças. Isso porque o projeto ampliou seu olhar para como lidar com o dinheiro, situações financeiras cotidianas, além de aplicar conceitos matemáticos observados em sala de aula. “Com o projeto, já vou ter uma noção de como cuidar do meu dinheiro, além de ser uma forma mais divertida e prática de mostrar às pessoas o que é educação financeira”, complementa.
Dentre os assuntos trabalhados no exame, estão produção e consumo, orçamento pessoal e familiar e investimentos. Ao longo dos anos, pontua Renato Gurgel, um dos principais resultados observados é o aumento gradual de alunos nas olimpíadas ao longo das edições. Em 2018, foram alcançados 2 mil alunos, enquanto que atualmente esse número cresceu para mais de 40 mil considerando os dados de todo o país. Aliado a isso, há a formação dos estudantes e a representatividade do estado frente ao cenário brasileiro.
Para o próximo ano, o docente destaca a expectativa de participação de mais escolas, uma vez que após a pandemia da covid-19 muitas instituições deixaram de participar do projeto. Para isso, além da divulgação, o projeto vai realizar uma busca ativa nos espaços escolares do Estado para que eles possam conhecer a iniciativa e inseri-la em seus planejamentos letivos. “Nós temos escolas que participam desde a primeira edição e outras que entraram a partir da terceira. O interessante é que, depois que ela entra, ela vai se renovando. Isso mostra a importância dessa olimpíada para essas escolas”, ressalta.
A baixa participação de escolas públicas, contudo, ainda é um desafio a ser superado. Para o coordenador da iniciativa, o cenário pode estar sendo influenciado, dentre outros aspectos, por questões de infraestrutura. Isso porque a primeira fase da olimpíada acontece por meio do google forms, ou seja, exige espaços de informática que nem sempre estão presentes nas instituições. O apoio institucional do Governo do RN por meio de divulgação da OBEF, por sua vez, também poderia ampliar essa inserção no Estado.
Embora o projeto não tenha indicadores específicos sobre o desempenho separado dos alunos de instituições públicas e privadas, Renato Gurgel destaca que algumas constatações não mensuráveis podem ser captadas nesses espaços. “Quando a gente fala com professores de instituições públicas, por exemplo, o que relatam é que essas olimpíadas incentivam os alunos a quererem dar passos maiores no seu futuro. Então o objetivo da olimpíada é dar esse estímulo para que o aluno continue estudando e se dedicando”, complementa Renato Gurgel.
Meta é estimular o controle financeiro antes da fase adulta
Do ponto de vista interno do projeto, também há ganhos para os alunos participantes. Neste ano, a UFRN contou com o apoio de três professores e quatro alunos para a correção das provas. Entre as colaboradoras, está a mestranda em Ciências Contábeis da UFRN, Eliane Alves, para quem o ingresso no projeto foi motivado pela necessidade de introduzir o diálogo sobre educação financeira no ambiente familiar e pelo desejo de conscientizar crianças e jovens pelo tema.
Na visão dela, mesmo durante a infância e adolescência, é fundamental que esse público aprenda a cultivar uma relação equilibrada com o dinheiro e investir adequadamente o valor recebido pelos pais como mesada. Desde que entrou na iniciativa, relata, conversas sobre a situação financeira em casa e as condições para realizar atividades de lazer também se tornaram mais abertas junto aos seus filhos.
Aliado a isso, Eliane Alves esclarece que o planejamento financeiro é essencial para lidar com situações que fogem do controle da população, seja uma doença que exige a compra de remédios, a perda de um emprego, ou a necessidade de realizar um parcelamento. Se hoje a geração mais antiga encontra-se com vários problemas gerados pela falta de aprendizado sobre finanças, como endividamento, a expectativa com a expansão das Olimpíadas é estimular a criação de novos hábitos de consumo e controle financeiro antes da fase adulta.
Com a aprendizagem dos alunos sobre educação financeira, o projeto também possibilita a transmissão de conhecimentos para os pais dentro de casa. É o que aponta o professor Aldefran Aderson da Silva Souza, diretor de uma escola privada de Upanema, na qual cerca de 200 alunos participam da OBEF anualmente. Na instituição, além do engajamento estudantil nas olimpíadas, conteúdos sobre finanças também são discutidos na disciplina de matemática e por meio de ações internas voltadas tanto à conscientização quanto à resolução de problemas práticos.
A inserção na OBEF aconteceu em 2021. A partir desse momento, segundo o diretor, a prova tem alcançado maior destaque no ambiente escolar e a dedicação dos alunos vem acompanhado esse crescimento. “A cada ano, observamos um maior desempenho e empolgação dos alunos, obtendo maiores conquistas. Eles estão vendo que tem essa chance de obter conhecimentos e medalhas de reconhecimento”, diz.
por Kayllani Lima Silva
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