Por Giuliano Guandalini
No conjunto, os alunos brasileiros seguem colhendo resultados frustrantes nas comparações internacionais – como ocorreu na mais recente edição do Pisa, da OCDE.
Em matemática, mais de 70% dos estudantes brasileiros de 15 anos estão no nível mais baixo da proficiência e não atingem o mínimo de conhecimento esperado. Em ciências e leitura, metade dos alunos avaliados não domina o básico. Só 2% conseguem entender de fato o que estão lendo.
Os especialistas avaliam que o aumento do investimento público ajuda, mas não basta. Para acelerar a transformação do ensino brasileiro, será necessário dar escala às políticas públicas e às iniciativas bem-sucedidas.
Essa é a proposta do Instituto Salto, fundado por Claudia Costin, ex-ministra da Administração e ex-secretária municipal de Educação do Rio, e por Rafael Parente, ex-secretário de Educação do Distrito Federal. O instituto, que se posiciona como uma aceleradora de projetos educacionais, acaba de lançar o seu primeiro e-book, com estratégias para escalar as boas iniciativas na área.
O Salto recebeu R$ 2 milhões em apoio financeiro e espera quadruplicar o total de recursos até o fim de 2024. Entre os seus mantenedores estão o Instituto Unibanco, a Fundação Lemann e o Movimento Bem Maior.
“Existem boas práticas no Brasil, mas elas precisam de ajuda para serem escaladas,” Claudia disse ao Brazil Journal. “Daí a importância dos scaling labs, os laboratórios de escalabilidade das melhores práticas e ferramentas.”
Um primeiro obstáculo está na própria dificuldade em perenizar as histórias de sucesso, o que só é possível com o enraizamento das boas políticas públicas entre os gestores – algo ainda raro no País.
“Se você conversa com os educadores de Sobral, percebemos um grande alinhamento,” disse Claudia. Mas a implementação de projetos em escala no interior do Rio Grande do Sul será diferente do que será feito no Acre. “Precisamos fazer parcerias com vários atores diferentes – educadores, formuladores de políticas, gestores. Não se trata apenas do fator técnico.”
O Salto teve seu embrião no Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV. O centro, que era dirigido por Claudia, foi desativado recentemente depois de seis anos de vida. Alguns de seus integrantes, como Rafael, estão agora no novo instituto.
O Salto nasce com uma parceria com a Brookings Institution, um dos principais think tanks de políticas públicas dos EUA. Assim estará em contato com ferramentas de gestão e experiências de todo o mundo, que poderão ser adaptadas para a realidade brasileira.
“O Brookings identificou que houve avanços na compreensão do processo de aprendizagem e de como transformar uma escola ou pequenos grupos de escolas. Mas transformações de sistemas inteiros de educação são grandes desafios no mundo todo,” disse Rafael. “Por isso eles criaram uma rede de laboratórios em vários países. Agora a gente começa a fazer parte dessa rede.”
Com a adaptação das ferramentas desenvolvidas internacionalmente e a incorporação dos aprendizados locais, será possível acelerar as melhores práticas. “Não corremos o risco de repetir erros do passado, desperdiçando tempo, energia e recursos públicos,” disse o gestor.
Para os pesquisadores, a educação de qualidade deve ser promovida como o grande nivelador social, enfrentando as disparidades estruturais de décadas. Mas enquanto não houver um aprimoramento da gestão, boas iniciativas isoladas não conseguirão mexer o ponteiro da mudança sistêmica de que o País necessita.
“Duas coisas extremamente importantes são o desenvolvimento das capacidades técnicas locais de ensino, para que se faça uma boa implementação, e o desenvolvimento das lideranças em diversos níveis”, disse Rafael. “É isso que dará a sustentação para as mudanças.”
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