Estudante de Fortaleza que tirou nota mil na redação citou filme de comédia e CLT


 Nascida e criada em Ji-Paraná, em Rondônia, a estudante Karoline Soares Teixeira há três anos tomou uma decisão que mudaria sua vida: se mudou para Fortaleza, no Ceará, a mais de 3,6 mil km de sua terra natal, para cursar o último ano do ensino médio em um colégio renomado com bolsa de estudos. O foco desde sempre foi se preparar para conseguir uma vaga no curso de Medicina, um dos mais concorridos do país. Agora, após tirar mil na redação do Enem 2023, esse sonho parece mais palpável.

Karoline, de 20 anos, fez outras duas edições do Enem, mas não conseguiu o resultado necessário para a aprovação. Desta vez, ela estava mais preparada e cheia de referências culturais e histórias para citar na redação. No texto, cujo tema foi "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil", ela optou por citar o filme de comédia "Não Sei Como Ela Consegue", protagonizado por Sarah Jessica Parker, estrela da série Sex and the City.

Na trama, a atriz interpreta Kate Reddy, o modelo da mulher moderna, que divide seu tempo entre os afazeres domésticos como mãe de família e os profissionais, decorrentes de seu trabalho.


— Achei importante e diferente citar o filme, que mostra bastante a vida corrida imposta às mulheres. Com base na obra eu comecei a dissertar e puxar argumentos de que o cenário cinematográfico é semelhante ao que a gente vê no Brasil, onde as mulheres desempenham majoritariamente esse papel de cuidado, e muitas vezes elas não são reconhecidas nem legislativamente nem socialmente, já que a sociedade vê isso como uma obrigação inerente à figura feminina — explicou a estudante, que também foi bolsista por dois anos do cursinho pré-vestibular do colégio Ari de Sá, que utiliza o SAS Plataforma de Educação.

De acordo com a estudante, ela ainda citou feitos históricos do país, como a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), sancionada por Getúlio Vargas em 1º de maio de 1943. Na etapa da argumentação, Karoline pontuou justamente a ausência de legislações que resguardem as mulheres em seus múltiplos trabalhos.

— Sem leis, a gente acaba gerando um cenário de invisibilidade em torno dessa figura feminina, já que nós não temos nada que disponha sobre uma possível remuneração ou sobre um auxílio até financeiro para elas. Então, eu fui desenvolvendo em torno desse eixo histórico e cultural, até chegar nas propostas de intervenção, que seria reorganizar esse padrão cultural diante da sociedade, mas também trazer algo físico diante da legislação que torne essas mulheres mais assistidas pelo Estado brasileiro — afirmou.

Sobre o processo de preparação para a prova, a jovem contou ter sido de muita disciplina.

— Acredito que escrever desde o início do ano e manter uma redação por semana seja o segredo. O 1000 veio, acredito eu, por ter conseguido organizar o tema em torno de um eixo histórico, trazendo a reverberação dos efeitos nos dias atuais. A gente quer a nota 1000, mas nunca espera que vai sair, né!? Foi uma grata surpresa! — comemorou Karoline.


Diário do Nordeste

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