EUA: a casa Branca não tem o que explicar

  POR massas
O imperialismo dita até como deve se comportar o governo brasileiro

A presidente Dilma Rousseff, finalmente, cancelou seu encontro com o presidente Barack Obama. A sua viagem aos Estados Unidos seria uma escandalosa demonstração de vassalagem do Brasil.

Há quem diga que o governo petista fez uma demonstração de defesa da soberania do País. Nada mais falso! O cancelamento do embarque de Dilma Rousseff se deu depois de muito esperar uma explicação dos Estados Unidos sobre a espionagem promovida pela Agência de Segurança Nacional (NSA).

Estava claro que a Casa Branca não tinha o que explicar. Os Estados Unidos simplesmente usaram seu poderio para vasculhar informações do governo brasileiro e de empresas, como a Petrobrás. É mais do que sabido que o petróleo tem importância estratégica para a maior potência do mundo. O imperialismo necessita controlar rigorosamente as fontes de matéria-prima que se encontram nos países semicoloniais.
A espionagem eletrônica é uma nova modalidade que facilita a interferência do imperialismo na vida interna das nações de economia atrasada. O Brasil apareceu como um pobre diabo que não tem como se defender da invasão rapina do seu “amigo” e “aliado”. Se se pretende criar uma defesa eletrônica, terá de comprar os aparelhos dos próprios invasores. Bons negócios esperam à indústria de informática.

O Brasil não domina a tecnologia. Isso porque sua incipiente indústria avançada sistematicamente foi sufocada. Cada vez que surge um foco em áreas tecnológicas de ponta, as multinacionais se encarregam de liquidá-lo.

No momento em que vem a lume as revelações de Edward Snowden, o governo de Dilma estava em adiantada “negociação”, ou melhor “renegociação”, do uso da base de Alcântara, de onde os Estados poderão lançar seus satélites e controlar mais amplamente o globo terrestre. O projeto de uma indústria nacional de satélites foi para o espaço.

Também, neste momento, está negociando a compra bilionária de aviões de guerra da Boeing. Em troca, se negociam os “privilégios” concedidos pelos Estados Unidos do seu “Global Entry”. Os vistos de entrada no País ficarão mais fáceis. Os empresários terão menos dor de cabeça. E a classe média brasileira endinheirada, mais facilidade para gastar em Miami.
Lembramo-nos dos espelhinhos oferecidos pelos colonizadores, nos idos do século XVI, aos nossos índios.

O que significou o “cancelamento” da Visita de Estado? Significou aceitar o espelhinho. Obama e Dilma negociaram os termos do adiamento. Não houve uma decisão unilateral do governo brasileiro. O governo petista não disse: os Estados Unidos não nos deram a resposta desejada, logo está cancelada a visita de Estado. A nota emitida pelo governo norte americano é clara: “...ambos os países concordaram em adiar a Visita de Estado da presidente Dilma a Washington marcada para 23 de outubro”. Houve apenas uma suspensão do encontro, de maneira a não parecer qualquer atitude de desrespeito e hostilidade ao imperialismo.
As negociatas “bilaterais” continuam normalmente. Os Estados Unidos têm muitos espelhinhos para oferecer aos brasileiros.
A nota de Dilma Rousseff repete os termos do adiamento conjunto, mas não poderia deixar de se diferenciar pelo palavreado jocoso de que a “interceptação das comunicações” constitui “fato grave, atentatório à soberania nacional e aos direitos individuais, e incompatível com a convivência democrática entre países amigos.”
O que mais o governo petista poderia fazer? Absolutamente, nada! Os empresários brasileiros não suspenderam sua Visita de Estado. Foram a Washington. O departamento de Estado, Comércio e Tesouro recebeu alegremente os representantes do Conselho Empresarial Brasil-EUA.
Todos lamentaram a tensão entre os dois países. Mas fazer o quê? A vida continua, os negócios não param e a burguesia brasileira pouco está se lixando para a invasão dos computadores e dos aparelhos telefônicos pela NSA. Não existe mais isso de soberania nacional. É coisa do passado. Velharia do nacionalismo. Ao governo brasileiro, sim, é compreensível que fale em soberania, esperneie, levante a bandeira das leis internacionais, da convivência civilizada, do respeito mútuo, etc. A tagarelice sobre soberania e direitos individuais à privacidade faz bem para a imagem do servidor do imperialismo. À burguesia nacional, cabe manter os negócios com os invasores rapinas.
Esse é o ponto a que chegou o Brasil semicolonial. Mas a posição de subserviência da burguesia e de hipocrisia do governo petista não elimina o real problema da soberania. A submissão do País às potências o mantém no atraso, na condição primordial de produtor de matérias-primas, importador de capital financeiro, eterno devedor e fonte de saque. O peso dessa carga recai sobre a maioria dos brasileiros explorados. A defesa da soberania tem por conteúdo as tarefas democráticas antiimperialistas.
Na história do desenvolvimento do capitalismo brasileiro, jamais a burguesia nacional foi antiimperialista. O máximo que alcançou foi o mesquinho nacionalismo varguista. Do colonialismo português, o Brasil passou para a órbita do imperialismo inglês e deste para a do norte-americano. Em nenhum momento deste longo trajeto, se despontou uma fração da burguesia brasileira que expressasse consistente e consequentemente a defesa da soberania nacional.
O papel de bobo da corte cumprido pelo governo petista – o PT tem em seu programa a defesa da soberania nacional – é fruto da profunda submissão da burguesia brasileira ao imperialismo. Governar para essa burguesia, é fazer o papel de bobo da corte perante o imperialismo.
A defesa da soberania do Brasil passou para as mãos do proletariado. Colocar o país semicolonial em posição de independência perante as potências, implica começar por atingir o poder econômico do imperialismo. As multinacionais e o capital financeiro serão estatizados sem indenização e colocados sob o controle operário. Esse é o conteúdo e o primeiro passo decisivo da luta antiimperialista e da conquista da independência nacional. Somente um processo revolucionário que permita a classe operária se dirigir à tomada do poder poderá colocar seriamente a independência do Brasil.
Certamente, estamos muito aquém dessa tarefa. O nosso proletariado se acha controlado e adormecido pelas forças pró-capitalistas, entre elas o PT. A construção do partido revolucionário avança, mas ainda muito embrionariamente. Essas condições políticas e ideológicas negativas, no entanto, não eliminam a tarefa democrática de defesa da independência nacional do Brasil, que, como vemos na conduta da burguesia e de seu governo diante da espionagem dos Estados Unidos, é objetiva.


POR massas.org

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