Wils Moreno
Várias ações foram desenvolvidas como parte da campanha de
conscientização
Mais um mês de outubro chega ao fim. Com ele
termina também a campanha "Ou-tubro Rosa", cujo objetivo é levar informações
às mulheres e despertar suas consciências sobre a necessidade da realização da
mamografia e a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama na luta
contra a doença e em favor da vida. Por: Luciano Araújo
Em termos de conscientização, a avaliação da
campanha é positiva, pois o número de pessoas, instituições e empresas que
aderiram à iniciativa cresceu.
Erimar Rocha, 48 anos, é uma das que ocupa a fila
há 21 dias. Ela descobriu há poucos meses um nódulo na mama. Agora tem que
passar pela cirurgia para que seja realizada a biopsia e identificado o tipo de
nódulo, a fim de que, a partir daí, o médico inicie o tratamento.
Seu histórico a preocupa. Em abril de 2010 ela
descobriu o primeiro nódulo. Erimar conta que às vezes sentia o seio
"queimar" e durante o banho percebeu o tumor. Foi quando procurou o
médico, que diagnosticou que o tumor era maligno. "No mesmo período dessa
vez, estava também no processo de greve", lembra. Mas na época, ela
precisou fazer quimioterapia e quando concluiu o procedimento a paralisação já
havia acabado, permitindo que desse continuidade ao tratamento. Erimar precisou
retirar completamente uma de suas mamas. De acordo com o que a médica lhe
informou naquele momento, ela possuía um tipo de câncer raro, que evolui
rapidamente.
Desta vez o alerta veio, novamente, quando sentiu a
sensação de "queima" na segunda mama, mas ela conta que tinha medo de
fazer o autoexame. Como a data para retorno ao médico estava próxima, o
profissional comprovou que se tratava de um nódulo.
Mas ela ainda não sabe qual o tipo de tumor e
explica que o médico não quer perder tempo, por isso planeja a cirurgia para a
retirada do nódulo e realização da biopsia, procedimento que determinará qual o
tratamento indicado, dependendo se o tumor for benigno ou maligno. Na primeira
hipótese, apenas o nódulo será retirado, mas se o resultado apontar para um
tumor maligno, ela terá que retirar toda a outra mama.
Porém, para que possa começar o tratamento, ela
precisa passar pela cirurgia, o que só acontecerá quando alcançar sua vez na
fila de espera. "Nesse caso a gente se sente muito prejudicada",
revela.
"Oficialmente, estou na fila de espera há 20
dias", informa. A demora angustia não só a paciente: "Nisso sofre
todo mundo, a família sofre... eu sei que estou me prejudicando, cada vez mais,
porque não reduz", diz ela.
Quando soube da paralisação das cirurgias, veio o
desespero. "Eu fiquei sem chão, o medo bate. Sofre a família, sofre a
gente, que não pode fazer nada. Vejo a situação das outras pessoas, pois não
sou só eu", desabafa, entre lágrimas.
Ela reconhece o trabalho dos profissionais do
Centro de Oncologia e Hematologia de Mossoró (COHM), mas sabe que nem tudo
depende dos médicos. "Dr. Cure e os outros médicos são excelentes, lutam
com garra pela vida da gente", comenta.
Erimar questiona como ficam as vidas das pessoas
que aguardam por uma cirurgia. "E nós? A vida? E a gente?", indaga.
"O câncer não é brincadeira", acrescenta.
Como já enfrentou a doença uma vez, teme ter que
fazer novamente. "Eu morro de medo da quimioterapia. Eu já passei por uma
e não quero passar por outra", afirma.
Mesmo com as dificuldades, mantém a esperança:
"Tenho fé em Deus que eu vou viver muitos anos de vida". Mas sabe que
nessa luta cada dia é importante. "É a luta contra o tempo, é a vontade de
viver", diz ela.
A paciente apela para a sensibilização de quem pode
resolver o problema. "O apelo é esse, ver se essas autoridades caem na
realidade, se sensibilizam com a situação do Centro de Oncologia, que é muita
gente, não sou só eu. É muita gente, muita gente encurtando vidas",
ressalta.
As cirurgias foram retomadas na segunda-feira
passada, 28. No entanto, em decorrência da estipulação do teto financeiro
mensal para o COHM ser de 393.279,56, o número de procedimentos foi reduzido e
serão priorizados os casos mais avançados da doença, como informa o médico Cure
Medeiros. Com isso, se antes eram realizadas 400 cirurgias por mês, agora serão
200, fazendo com que haja uma fila de espera pelo procedimento.
Ele espera que a situação seja resolvida em nível
de Brasília. Para isso, a Prefeitura de Mossoró recorreu ao Governo do Estado,
que, por sua vez, recorreu ao Governo Federal solicitando o aumento do teto em
R$ 1 milhão a mais, assim não haveria mais razão para filas. O próprio Cure
Medeiros também enviou uma cópia do documento solicitando ao presidente da
Câmara, Henrique Alves, interseção junto ao responsável pelo setor.
A resposta pode sair ainda hoje. Caso o pedido seja
aprovado, o médico acredita que dentro de um mês o repasse possa ser feito ao
município.
O médico lembra que o tempo de espera é cruel e
mexe com o psicológico do paciente. "A espera é angustiante", resume.
De acordo com o secretário de Comunicação da
Prefeitura, Julierme Torres, o entendimento entre médicos e a Prefeitura foi
fechado e o município irá pagar a diferença do débito que havia entre
Prefeitura de Mossoró e COHM.
Outubro Rosa cumpre papel de
conscientizar população
Apesar das dificuldades enfrentadas pela oncologia,
para Cure Medeiros a avaliação do mês de outubro é positiva, sobretudo, porque
durante o mês a campanha "Outubro Rosa" cumpriu seu papel de
conscientizar a sociedade. Papel que vem sendo cumprido mesmo sem a intervenção
do COHM, pois mais gente está aderindo à iniciativa. São empresas,
universidades e igrejas, entre outras, que levam conhecimento à população,
promovem ou sediam palestras sobre o tema e mesmo prédios iluminados de rosa,
lembrando a importância do diagnóstico precoce.
O médico comenta ainda o sucesso da campanha,
através da disseminação das ações e a co-responsabilidade do poder público, das
empresas e instituições em geral e lembra que até mesmo os menores municípios
desenvolveram atividades voltadas para a temática.
"Isso é bom, mesmo tendo passado por esses
problemas", diz ele. Como fruto das ações, ele acredita que em breve o
número de pessoas realizando mamografias aumentará.
"O balanço, não de Mossoró, mas de toda a
região Oeste é positivo", diz Medeiros. Com relação à cidade, a avaliação
também é boa, já que este ano Mossoró conseguiu fechar um ciclo de tratamento
na cidade e hoje é autossuficiente no combate ao câncer.
O assessor de comunicação da Liga de Estudos e
Combate ao Câncer de Mossoró (LECCM), Anderson Silvestre, comenta que a
entidade elaborou uma programação e iria fechar o mês com a Caminhada das
Vitoriosas, prevista para ocorrer no sábado passado, 26. Porém, no decorrer do
mês a equipe percebeu que não era viável realizar a caminhada. Embora não
fossem necessários recursos específicos para essa programação, a oncologia como
um todo passava por problemas, por isso a suspensão.
Apesar disso, ele também avalia o mês como positivo,
pois foram realizadas palestras em empresas e grupos de serviço, alertando a
população sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. Além
disso, outras ações foram desenvolvidas, como o pit stop, que contou com a
presença de voluntárias em vários pontos da cidade, levando informações à
sociedade sobre a doença e arrecadando doações. Em uma manhã foram coletados R$
1.164,35, que serão revertidos para a manutenção do Hospital da Solidariedade.
DADOS
De acordo com informações repassadas pelo Centro de
oncologia e Hematologia de Mossoró (COHM), o câncer de mama é o segundo tipo da
doença mais frequente no mundo, sendo o mais comum entre as mulheres e o
responsável por 22% dos casos novos a cada ano. "Se diagnosticado e
tratado oportunamente, o prognóstico é relativamente bom", afirma o texto.
Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA)
apontam que 52.680 novos casos de câncer foram diagnosticados no País no ano
passado.
Em Mossoró, de janeiro a dezembro do ano passado
foram notificados 109 novos casos de câncer de mama pelo Registro Hospitalar de
Câncer (RHC) do COHM. Ainda em 2012, o Centro de Oncologia registrou 12 óbitos
decorrentes da doença.
Em outubro do ano passado, 198 mulheres estavam em
tratamento contra o câncer de mama no COHM e 46 cirurgias mamárias foram
realizadas.
Os dados referentes a outubro deste ano ainda não
foram elaborados, porém, de acordo com o médico Cure Medeiros, o número de
procedimentos, no mínimo, duplicou. Isso porque a quantidade de salas de
cirurgias passou de uma, em 2012, para quatro este ano; houve aumento no número
de pacientes e no número de cidades circunvizinhas que deixaram de encaminhar
os pacientes para a capital e passaram a encaminhá-los para Mossoró. Houve
ainda aumento na quantidade de mastologistas e de procedimentos.
Em resumo, ele comenta que a quantidade de
cirurgias deve ter sido maior pela própria estrutura existente hoje. Mas o
total poderia ter sido ainda maior se as cirurgias não tivessem sido
paralisadas durante boa parte do mês de outubro.
Fonte: Gazeta do Oeste
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