Escola pública moderna, a serviço dos empresariado

Sobre o meu trabalho como professor e sobre a escola pública, venho a dizer:
Por: Thiago Camacho
A escola pública aparece como uma instituição que assegura a ordem e as disciplinas sociais vigentes. Isto é, ela funciona enquanto espaço de naturalização da divisão da sociedade em classes, funciona como espaço que preserva a desigualdade como se fosse resultado racional da meritocracia, como se fosse um dado da natureza, já que as personalidades e vontades individuais supostamente determinam onde o indivíduo pode chegar, a que status pode alcançar e a que classe pode chegar a pertencer por meio do trabalho e de seu esforço pessoal.

Em algumas palavras, a escola pública, no Estado Moderno serve, também, aos interesses dos dominantes, já que ela educa a população de crianças e filhos de trabalhadores para que venham a ser trabalhadores no futuro, e jovens e adolescentes proletários para que continuem sendo proletários, mantendo a classe, e multiplicando as forças produtivas, quando assim interessa ao sistema burguês.

A escola pública serve, por conseguinte, para que o dominante continue dominando, e ele, ao se valer da instituição escolar para que seus interesses não sejam ameaçados e para que sua classe seja mantida à custa da classe trabalhadora, prepara tão somente o estudante para o mercado de trabalho e não para questionar e refletir a realidade histórica e cultural.

Claude Lévi-Strauss nos mostra com que fins aparecem, por exemplo, a alfabetização para todos, e a escola pública para todos, por assim dizer:

“Olhemos mais perto de nós: a ação sistemática dos países europeus em favor da instrução obrigatória, que se desenvolve durante o século XIX, vai de par com a extensão do serviço militar e a proletarização. A luta contra o analfabetismo confunde-se assim com o fortalecimento do controle dos cidadãos pelo Poder. Pois é preciso que todos saibam ler para que este último possa dizer: ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.” (Claude Lévi-Strauss. Tristes trópicos)

Ora, se a escola aparece como funcional para um sistema que surge e que opera da e pela desigualdade social, o papel do professor e do educador, comprometido de fato com a inclusão e com a democratização do conhecimento, deve assumir papel revolucionário, pertencendo a projetos coletivos e centrando a ação pedagógica no objetivo genuíno de contestação e de transformação da sociedade, deflagrando a dominação como um processo de violência, que tem por objetivo a manutenção das polaridades entre a carência extrema e o privilégio extremo.

Por: Thiago Camacho é ator e professor de Língua Portuguesa.

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