Ataque ao
Centro Comercial Westgate Um retrato da barbĂĄrie capitalista e uma brutal
consequĂȘncia da opressĂŁo nacional africana
Uma
hora depois, as Forças Armadas do QuĂȘnia chegaram e iniciaram os combates, que
duraram mais de trĂȘs dias. Durante todo esse tempo, o grupo islĂąmico manteve
sob seu controle dezenas de reféns. Na manhã de terça-feira, as Forças Armadas
retomaram o controle do centro comercial e a maioria dos reféns havia sido
libertada. Ainda não se sabe o que se passou com os reféns que Al-Shabab reteve
durante os enfrentamentos. Ou o que ocorreu com os prĂłprios milicianos.
Estimam-se 60 mortos, 180 feridos e cerca de 60 pessoas desaparecidas. Entre os
mortos, estĂĄ um sobrinho do presidente do QuĂȘnia, Uhuru Kenyatta, assim como
diplomatas estrangeiros, empresĂĄrios, cidadĂŁos norte-americanos e israelenses,
entre outros.
As
cenas se assemelhavam as de uma guerra. Al-Shabab justificou o ataque como uma
“represĂĄlia” contra o governo do QuĂȘnia por intervir militarmente na SomĂĄlia.
Mas o ataque foi considerado pelo imperialismo como a expressĂŁo da
irracionalidade dos grupos islùmicos radicalizados. Por trås das forças do
governo, o imperialismo mundial”. E mostrou-se indignado diante das vĂtimas,
como se a barbĂĄrie fosse tĂŁo somente uma consequĂȘncia do terrorismo.
As
mortes de diplomatas e de pessoas da classe média rica, consideradas como
“alheias” aos enfrentamentos Ă©tnicos e aos conflitos regionais, assombraram a
grande burguesia. Acoberta-se, no entanto, que o governo do QuĂȘnia enviou
tropas Ă SomĂĄlia para combater a guerrilha opositora ao governo somali
pró-imperialista. Acoberta-se que as forças de intervenção quenianas estão a
serviço dos Estados Unidos. Acoberta-se que tĂȘm massacrado tanto os milicianos
opositores quanto civis. Acoberta-se, também, que o presidente e
vice-presidente do QuĂȘnia sĂŁo responsĂĄveis pelo genocĂdio de 1000 opositores,
em 2007/2008.
Ocorre
que demonizĂĄ-la permite ao governo do QuĂȘnia e aos imperialistas aprofundar seu
intervencionismo bĂ©lico nos paĂses africanos e reforçar a necessidade de travar
a guerra contra o terrorismo. Os Estados Unidos colocaram à disposição suas
forças especiais antiterrorismo. Israel foi mais pråtico: logo que iniciou o
ataque, um aviĂŁo se dirigiu para o QuĂȘnia, levando um comando especializado.
Esse grupo foi a principal força de combate contra os jihadistas dentro do
shopping, dirigindo concretamente as operaçÔes do exército queniano.
O
sionismo intervĂ©m na polĂtica interna do QuĂȘnia
A
notĂcia de que tropas israelenses intervieram no conflito provocou surpresa.
Como era possĂvel que comandos israelenses entrassem e atuassem livremente no
paĂs e dirigissem as tropas quenianas no terreno das operaçÔes? O governo do
QuĂȘnia invocou um “pacto de segurança secreto” entre os dois governos, que
garante a “assistĂȘncia militar” de Israel ao QuĂȘnia se este se vĂȘ “ameaçado por
uma força estrangeira”.
Ocorre
que o ataque foi também uma represålia contra Israel. O Westgate é de
propriedade de capitalistas israelenses. Mas o fundamental dessa relação é que
as tropas do QuĂȘnia que atuam na SomĂĄlia contam com o apoio de Israel para
combater a guerrilha do Al-Shabab.
Observa-se
que o ataque terrorista no Centro Comercial Westgate colocou Ă luz do dia o
“pacto secreto” que tem a função de criar uma retaguarda israelense ao governo
do QuĂȘnia e Ă s suas Forças Armadas que servem de linha de frente ao
imperialismo na intervenção em conflitos como o da Somålia. Por trås das
enĂ©rgicas declaraçÔes sobre a “solidariedade internacional” contra o
terrorismo, se configura assim uma intervenção estrangeira nos assuntos
internos de um paĂs oprimido e semicolonial. Esse pacto mostra o grau de
vassalagem da burguesia queniana.
Para
ocultar o servilismo, criou-se o rumor de que Al-Shabab planejava realizar um
ataque terrorista em Israel. O certo Ă© que Israel tem interesses concretos:
pretende prolongar o oleoduto BakĂș-AzerbayĂĄn- Cehyan-Turquia e convertĂȘ-lo em
uma “rota” energĂ©tica conectando-o ao oleoduto Trans-Israel, que cruza o paĂs e
termina no mar Vermelho, justamente onde estĂĄ localizada a SomĂĄlia. Sua
intervenção no QuĂȘnia e na SomĂĄlia pouco tem a ver com o altruĂsmo democrĂĄtico,
mas sim com os venais cĂĄlculos materiais de seus vorazes capitais.
Por
cima de Israel, a rapina burguesia norte-americana
Os
Estados Unidos se cuidaram em nĂŁo aparecer diretamente como agente do
esmagamento dos milicianos. Israel cumpriu essa função. Os interesses dos
Estados Unidos na regiĂŁo sĂŁo amplos. Entre a SomĂĄlia e o IĂȘmen estĂĄ o Golfo de
AdĂ©n, rota marĂtima para o mar Vermelho e para os campos de petrĂłleo do Golfo
Pérsico. Pelo estreito de Ormuz, passam mais de 20% do petróleo, mais da metade
dos barcos petroleiros de todo o mundo e 13% do trĂĄfico mundial de mercadorias.
JĂĄ em 1991, o general Schwarkopf advertiu perante senadores norte-americanos
que “o funil estratĂ©gico do mar vermelho Ă© o centro dos interesses dos Estados
Unidos (...) O estreito serĂĄ cada vez mais importante devido ao aumento das
capacidades de tratamento e exportação da Aråbia, cujo petróleo deverå passar
em sua maior parte por ele”.
Na
SomĂĄlia existem grandes reservas de petrĂłleo e gĂĄs. Em 1986, o governo da
SomĂĄlia concedeu a quatro multinacionais norte-americanas (Conoco, Amoco,
Chevron e Phillips) os direitos exclusivos para extrair o petrĂłleo de 75% dos
poços previstos na licitação. Além disso, existem em seu território
significativas reservas de urĂąnio, ferro, estanho, bauxita, cobre, entre outros
minerais. As fontes de matérias- primas e sua posição geogråfica fazem da
SomĂĄlia um territĂłrio vital para os interesses dos Estados Unidos.
Ocorre,
tambĂ©m, que por essa rota, hoje, a China penetra em Moçambique, QuĂȘnia,
TanzĂąnia e ZanzĂbar, disputando mercados e matĂ©rias-primas com os monopĂłlios
norte-americanos e europeus. EstĂĄ aĂ por que a guerrilha islĂąmica deve ser
esmagada na SomĂĄlia e o QuĂȘnia deve continuar submisso e servindo Ă ação do
imperialismo na regiĂŁo.
Ăfrica:
um barril de pĂłlvora
O
desmembramento regional, as lutas intestinas, os conflitos étnicos e as guerras
nacionais permitiram ao imperialismo atuar por cima das fronteiras, opondo um
paĂs contra outro. Hoje, essa tĂĄtica se vĂȘ impregnada pelas consequĂȘncias da
crise mundial capitalista, que empurra as massas a saĂrem Ă s ruas e combaterem
os governos prĂł-imperialistas. As potĂȘncias estĂŁo obrigadas a acentuar a
opressĂŁo nacional sobre a Ăfrica, transformando-a em intervenção militar mais
ou menos aberta. A “guerra” do governo do QuĂȘnia contra a milĂcia de Al-Shabab
Ă© uma expressĂŁo particular dessa polĂtica exterior imperialista na regiĂŁo.
No
entanto, a virulĂȘncia das contradiçÔes econĂŽmicas, nas condiçÔes de opressĂŁo
nacional, torna cada vez mais convulsiva a situação polĂtica. Para a burguesia
imperialista e as vassalas classes dominantes semicoloniais, o ataque do
Al-Shabab Ă© uma mostra de que se deve aprofundar os laços de dependĂȘncia e o
intervencionismo militar em outros paĂses para, supostamente, “erradicar” o
“terrorismo Mundial” e garantir a estabilidade democrĂĄtica e os investimentos
estrangeiros.
Ao
contrĂĄrio, trata-se de romper com a opressĂŁo nacional transformando o Ăłdio dos
oprimidos contra seus opressores em polĂtica revolucionĂĄria. Por isso Ă© que, a
despeito dos mĂ©todos da milĂcia islĂąmica, que com tanta veemĂȘncia a burguesia
condena, sua ação expressa o choque objetivo dos oprimidos contra seus
opressores e contra os governos tĂteres que realizam o trabalho sujo.
O
Partido OperĂĄrio RevolucionĂĄrio responsabiliza o imperialismo e o governo
fantoche do QuĂȘnia pelo ato terrorista praticado pela milĂcia Al-Shabab.
Defende o direito a autodeterminação da Somålia. Que imediatamente sejam
retiradas as tropas interventoras do QuĂȘnia e outras que atuam na SomĂĄlia. Cabe
apenas aos somalis decidirem o destino do paĂs. O POR declara que a libertação
nacional dos povos oprimidos serĂĄ conquistada no momento em que os explorados
se organizarem em um partido revolucionĂĄrio e lutarem para enterrar o
capitalismo.
POR massas.org
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