QuĂȘnia: a marca do terror

Ataque ao Centro Comercial Westgate Um retrato da barbĂĄrie capitalista e uma brutal consequĂȘncia da opressĂŁo nacional africana             
Depois de dias de intensos combates, as Forças Armadas quenianas recuperaram o controle do Centro Comercial Westgate, situado em Nairobi, capital do QuĂȘnia. O ataque da milĂ­cia islĂąmica Al-Shababa, de origem somali, vinculada Ă  Al-Qaeda, contra as pessoas que estavam no shopping, começou no dia 21, quando 15 milicianos entraram e começaram a disparar e a lançar granadas.                  POR massas.org
Uma hora depois, as Forças Armadas do QuĂȘnia chegaram e iniciaram os combates, que duraram mais de trĂȘs dias. Durante todo esse tempo, o grupo islĂąmico manteve sob seu controle dezenas de refĂ©ns. Na manhĂŁ de terça-feira, as Forças Armadas retomaram o controle do centro comercial e a maioria dos refĂ©ns havia sido libertada. Ainda nĂŁo se sabe o que se passou com os refĂ©ns que Al-Shabab reteve durante os enfrentamentos. Ou o que ocorreu com os prĂłprios milicianos. Estimam-se 60 mortos, 180 feridos e cerca de 60 pessoas desaparecidas. Entre os mortos, estĂĄ um sobrinho do presidente do QuĂȘnia, Uhuru Kenyatta, assim como diplomatas estrangeiros, empresĂĄrios, cidadĂŁos norte-americanos e israelenses, entre outros.
As cenas se assemelhavam as de uma guerra. Al-Shabab justificou o ataque como uma “represĂĄlia” contra o governo do QuĂȘnia por intervir militarmente na SomĂĄlia. Mas o ataque foi considerado pelo imperialismo como a expressĂŁo da irracionalidade dos grupos islĂąmicos radicalizados. Por trĂĄs das forças do governo, o imperialismo mundial”. E mostrou-se indignado diante das vĂ­timas, como se a barbĂĄrie fosse tĂŁo somente uma consequĂȘncia do terrorismo.
As mortes de diplomatas e de pessoas da classe mĂ©dia rica, consideradas como “alheias” aos enfrentamentos Ă©tnicos e aos conflitos regionais, assombraram a grande burguesia. Acoberta-se, no entanto, que o governo do QuĂȘnia enviou tropas Ă  SomĂĄlia para combater a guerrilha opositora ao governo somali prĂł-imperialista. Acoberta-se que as forças de intervenção quenianas estĂŁo a serviço dos Estados Unidos. Acoberta-se que tĂȘm massacrado tanto os milicianos opositores quanto civis. Acoberta-se, tambĂ©m, que o presidente e vice-presidente do QuĂȘnia sĂŁo responsĂĄveis pelo genocĂ­dio de 1000 opositores, em 2007/2008.
Ocorre que demonizĂĄ-la permite ao governo do QuĂȘnia e aos imperialistas aprofundar seu intervencionismo bĂ©lico nos paĂ­ses africanos e reforçar a necessidade de travar a guerra contra o terrorismo. Os Estados Unidos colocaram Ă  disposição suas forças especiais antiterrorismo. Israel foi mais prĂĄtico: logo que iniciou o ataque, um aviĂŁo se dirigiu para o QuĂȘnia, levando um comando especializado. Esse grupo foi a principal força de combate contra os jihadistas dentro do shopping, dirigindo concretamente as operaçÔes do exĂ©rcito queniano.

O sionismo intervĂ©m na polĂ­tica interna do QuĂȘnia
A notĂ­cia de que tropas israelenses intervieram no conflito provocou surpresa. Como era possĂ­vel que comandos israelenses entrassem e atuassem livremente no paĂ­s e dirigissem as tropas quenianas no terreno das operaçÔes? O governo do QuĂȘnia invocou um “pacto de segurança secreto” entre os dois governos, que garante a “assistĂȘncia militar” de Israel ao QuĂȘnia se este se vĂȘ “ameaçado por uma força estrangeira”.
Ocorre que o ataque foi tambĂ©m uma represĂĄlia contra Israel. O Westgate Ă© de propriedade de capitalistas israelenses. Mas o fundamental dessa relação Ă© que as tropas do QuĂȘnia que atuam na SomĂĄlia contam com o apoio de Israel para combater a guerrilha do Al-Shabab.
Observa-se que o ataque terrorista no Centro Comercial Westgate colocou Ă  luz do dia o “pacto secreto” que tem a função de criar uma retaguarda israelense ao governo do QuĂȘnia e Ă s suas Forças Armadas que servem de linha de frente ao imperialismo na intervenção em conflitos como o da SomĂĄlia. Por trĂĄs das enĂ©rgicas declaraçÔes sobre a “solidariedade internacional” contra o terrorismo, se configura assim uma intervenção estrangeira nos assuntos internos de um paĂ­s oprimido e semicolonial. Esse pacto mostra o grau de vassalagem da burguesia queniana.
Para ocultar o servilismo, criou-se o rumor de que Al-Shabab planejava realizar um ataque terrorista em Israel. O certo Ă© que Israel tem interesses concretos: pretende prolongar o oleoduto BakĂș-AzerbayĂĄn- Cehyan-Turquia e convertĂȘ-lo em uma “rota” energĂ©tica conectando-o ao oleoduto Trans-Israel, que cruza o paĂ­s e termina no mar Vermelho, justamente onde estĂĄ localizada a SomĂĄlia. Sua intervenção no QuĂȘnia e na SomĂĄlia pouco tem a ver com o altruĂ­smo democrĂĄtico, mas sim com os venais cĂĄlculos materiais de seus vorazes capitais.
Por cima de Israel, a rapina burguesia norte-americana
Os Estados Unidos se cuidaram em nĂŁo aparecer diretamente como agente do esmagamento dos milicianos. Israel cumpriu essa função. Os interesses dos Estados Unidos na regiĂŁo sĂŁo amplos. Entre a SomĂĄlia e o IĂȘmen estĂĄ o Golfo de AdĂ©n, rota marĂ­tima para o mar Vermelho e para os campos de petrĂłleo do Golfo PĂ©rsico. Pelo estreito de Ormuz, passam mais de 20% do petrĂłleo, mais da metade dos barcos petroleiros de todo o mundo e 13% do trĂĄfico mundial de mercadorias. JĂĄ em 1991, o general Schwarkopf advertiu perante senadores norte-americanos que “o funil estratĂ©gico do mar vermelho Ă© o centro dos interesses dos Estados Unidos (...) O estreito serĂĄ cada vez mais importante devido ao aumento das capacidades de tratamento e exportação da ArĂĄbia, cujo petrĂłleo deverĂĄ passar em sua maior parte por ele”.
Na Somålia existem grandes reservas de petróleo e gås. Em 1986, o governo da Somålia concedeu a quatro multinacionais norte-americanas (Conoco, Amoco, Chevron e Phillips) os direitos exclusivos para extrair o petróleo de 75% dos poços previstos na licitação. Além disso, existem em seu território significativas reservas de urùnio, ferro, estanho, bauxita, cobre, entre outros minerais. As fontes de matérias- primas e sua posição geogråfica fazem da Somålia um território vital para os interesses dos Estados Unidos.
Ocorre, tambĂ©m, que por essa rota, hoje, a China penetra em Moçambique, QuĂȘnia, TanzĂąnia e ZanzĂ­bar, disputando mercados e matĂ©rias-primas com os monopĂłlios norte-americanos e europeus. EstĂĄ aĂ­ por que a guerrilha islĂąmica deve ser esmagada na SomĂĄlia e o QuĂȘnia deve continuar submisso e servindo Ă  ação do imperialismo na regiĂŁo.
África: um barril de pólvora
O desmembramento regional, as lutas intestinas, os conflitos Ă©tnicos e as guerras nacionais permitiram ao imperialismo atuar por cima das fronteiras, opondo um paĂ­s contra outro. Hoje, essa tĂĄtica se vĂȘ impregnada pelas consequĂȘncias da crise mundial capitalista, que empurra as massas a saĂ­rem Ă s ruas e combaterem os governos prĂł-imperialistas. As potĂȘncias estĂŁo obrigadas a acentuar a opressĂŁo nacional sobre a África, transformando-a em intervenção militar mais ou menos aberta. A “guerra” do governo do QuĂȘnia contra a milĂ­cia de Al-Shabab Ă© uma expressĂŁo particular dessa polĂ­tica exterior imperialista na regiĂŁo.
No entanto, a virulĂȘncia das contradiçÔes econĂŽmicas, nas condiçÔes de opressĂŁo nacional, torna cada vez mais convulsiva a situação polĂ­tica. Para a burguesia imperialista e as vassalas classes dominantes semicoloniais, o ataque do Al-Shabab Ă© uma mostra de que se deve aprofundar os laços de dependĂȘncia e o intervencionismo militar em outros paĂ­ses para, supostamente, “erradicar” o “terrorismo Mundial” e garantir a estabilidade democrĂĄtica e os investimentos estrangeiros.
Ao contrĂĄrio, trata-se de romper com a opressĂŁo nacional transformando o Ăłdio dos oprimidos contra seus opressores em polĂ­tica revolucionĂĄria. Por isso Ă© que, a despeito dos mĂ©todos da milĂ­cia islĂąmica, que com tanta veemĂȘncia a burguesia condena, sua ação expressa o choque objetivo dos oprimidos contra seus opressores e contra os governos tĂ­teres que realizam o trabalho sujo.
O Partido OperĂĄrio RevolucionĂĄrio responsabiliza o imperialismo e o governo fantoche do QuĂȘnia pelo ato terrorista praticado pela milĂ­cia Al-Shabab. Defende o direito a autodeterminação da SomĂĄlia. Que imediatamente sejam retiradas as tropas interventoras do QuĂȘnia e outras que atuam na SomĂĄlia. Cabe apenas aos somalis decidirem o destino do paĂ­s. O POR declara que a libertação nacional dos povos oprimidos serĂĄ conquistada no momento em que os explorados se organizarem em um partido revolucionĂĄrio e lutarem para enterrar o capitalismo.


POR massas.org

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