Somos seres iguais ou diferentes, então!

A tese que diz que os homens são iguais é uma tese revolucionária, é uma ideia perigosa para os poderosos. Note que o fato de que numa sociedade exista um poderoso de plantão (um rei, ou imperador), poucos poderosos (uma oligarquia) ou muitos poderosos (a classe dos ricos, donos do poder econômico) já é uma sociedade baseada na tese de que as pessoas são diferentes: um ou uns possuem poder e a maioria não. Até onde sei quem primeiro defendeu a tese da igualdade dos homens foi o Cristianismo (no Oriente encontramos filosofias segundo as quais as pessoas são tão iguais que chegam a constituir um ser único. Só não entendo como uma filosofia dessas pode conviver com o despotismo. Andreas Laban podia nos ajudar a entender isso). Para o cristianismo os homens são iguais perante Deus. Como disse acima a ideia é perigosa para os poderosos, tanto que seu autor foi torturado e crucificado.
 Por: Fernando Antonio C. de Carvalho
A próxima defesa histórica da igualdade entre os homens foi representada pelo Liberalismo, segundo essa filosofia política os homens são iguais perante a lei. Mas a gente sabe que apesar de significar um grande avanço para a humanidade, a igualdade perante a lei é uma igualdade relativa. Os ricos que têm dinheiro para pagar os melhores advogados se tornam “mais iguais” que os proletários.


A próxima defesa histórica da igualdade entre os homens foi o Socialismo. Para o socialismo os homens são socialmente iguais, nada justifica uma classe de pessoas explorar o trabalho de outra classe de pessoas. A divisão de trabalho na sociedade ainda vai haver até que a automação do trabalho se generalize. O princípio que rege a sociedade socialista: “De cada um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordo com suas necessidades”, assume que os homens são diferentes tanto quanto a suas capacidades quanto às suas necessidades, mas vincula capacidade à necessidade. A pessoa pode ser um gênio em um ramo de atividade qualquer, mas suas necessidades dificilmente serão muito diferentes das do seu próximo. Todo mundo come uma quantidade de comida aproximada e só pode ver um monitor de computador de cada vez. Nada justifica um “nerd” como Bill Gates possuir uma fortuna de 80 bilhões de dólares. Defendo para o caso dele impostos progressivos de até 99%.

A tese socialista é a mais avançada, mas foi vitimada pela corrupção e pela burocracia.

O capitalismo, por sua vez, a sociedade baseada na tese de que os homens são “diferentes”: os capachos e os que pisam nos capachos, também não resolveu o problema da raça humana. O capitalismo encontra-se em uma crise sistêmica e não vai sair dela. O que sair da crise do capitalismo será um modelo de sociedade que não é capitalismo e nem socialismo burocrático, talvez uma “terceira via” mais socialista que capitalista. 
A sociedade socialista pode reservar um nicho de mercado para os tarados que adoram o dinheiro.

A tese de que os homens são diferentes é tão simplória que dá desânimo. Os homens são diferentes pelo valor de face: uns são pretos outros brancos, uns são magros outros gordos, uns altos outros baixos. Fisiologicamente somos todos iguais: todos comemos, bebemos e dormimos. De um ponto de vista teleológico estamos todos no mesmo barco (somos todos iguais nesse momento), esta canoa furada remando contra a maré.

Por: Fernando Antônio Carneiro de Carvalho é historiador, formado pela Universidade Federal Fluminense.

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